São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Depois da festa

Lula comemora novos números do PIB, embora principais problemas econômicos do país continuem os mesmos

A REVISÃO dos números do PIB, como era de esperar, melhorou o ânimo de Luiz Inácio Lula da Silva. Se alguém construísse um índice de humor presidencial baseado no seu bordão predileto -o "nunca na história deste país"- e variações, notaria que atingiu valores altos na sexta.
"Não há momento na história econômica do país com tantos fatores positivos combinando entre si", disse Lula na cerimônia de posse de três ministros.
Nas palavras presidenciais, Walfrido Mares Guia, que deixava o Turismo para assumir as Relações Institucionais, implantou "a mais consolidada política de turismo já colocada em prática neste país". A ex-prefeita Marta Suplicy, substituta de Mares Guia, "resolveu fazer uma política para os pobres que jamais foi feita" na cidade de São Paulo.
Credite-se essa dose extra de hipérbole e autocongratulação ao "novo" PIB -11% maior do que antes se calculava, tendo crescido nos últimos anos acima das taxas previamente estimadas. A carga tributária e o endividamento público também ficaram menores, como proporção do PIB, sob a metodologia mais acurada do IBGE.
As trombetas do lulismo, obviamente, são o de menos. Qualquer presidente em sua situação estaria em festa -embora dificilmente no mesmo estilo. O que mais preocupa é o risco, ponderável, de esse clima de euforia disseminar-se no governo federal a ponto de desviá-lo da agenda necessária para colocar o país de vez na rota do desenvolvimento. À diferença do que pode fazer crer o júbilo de Lula, os problemas da economia brasileira permanecem os mesmos.
O Estado está menos endividado, mas a monta de seu passivo e, em especial, o custo dos juros para o erário continuam exorbitantes. O peso dos impostos é menor, mas a carga é crescente e mal distribuída, e o Brasil ainda tributa demais em relação a economias semelhantes. Crescemos algo além do que supúnhamos nos últimos anos, mas em ritmo inferior ao mundial -e sem alívio relevante no desemprego.
A principal novidade das contas refeitas pelo IBGE diz respeito a "timing". O Brasil poderá antecipar programas ambiciosos há muito ansiados pelos agentes econômicos, como o alívio da carga tributária, a redução dos juros básicos a patamares civilizados e o aumento das despesas, públicas e privadas, em infra-estrutura -a construção civil, vale lembrar, perdeu importância após a reavaliação do PIB.
A condição para atacar essas mazelas da economia -responsáveis diretas pelo baixo nível de emprego no país- é que o poder público reduza as suas despesas correntes (os gastos de manutenção do governo).
Apenas mediante o encolhimento proporcional desses dispêndios será possível abater impostos e aumentar a aplicação de recursos em geração de energia, portos, estradas, ferrovias etc. Todos esses vetores levam a mais investimento produtivo na economia, garantia de crescimento sustentado com juros baixos.


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