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Depois da festa
Lula comemora novos números do PIB, embora principais problemas econômicos do país continuem os mesmos
A REVISÃO dos números
do PIB, como era de esperar, melhorou o ânimo de Luiz Inácio Lula
da Silva. Se alguém construísse
um índice de humor presidencial
baseado no seu bordão predileto
-o "nunca na história deste
país"- e variações, notaria que
atingiu valores altos na sexta.
"Não há momento na história
econômica do país com tantos
fatores positivos combinando
entre si", disse Lula na cerimônia
de posse de três ministros.
Nas palavras presidenciais,
Walfrido Mares Guia, que deixava o Turismo para assumir as Relações Institucionais, implantou
"a mais consolidada política de
turismo já colocada em prática
neste país". A ex-prefeita Marta
Suplicy, substituta de Mares
Guia, "resolveu fazer uma política para os pobres que jamais foi
feita" na cidade de São Paulo.
Credite-se essa dose extra de
hipérbole e autocongratulação
ao "novo" PIB -11% maior do
que antes se calculava, tendo
crescido nos últimos anos acima
das taxas previamente estimadas. A carga tributária e o endividamento público também ficaram menores, como proporção
do PIB, sob a metodologia mais
acurada do IBGE.
As trombetas do lulismo, obviamente, são o de menos. Qualquer presidente em sua situação
estaria em festa -embora dificilmente no mesmo estilo. O que
mais preocupa é o risco, ponderável, de esse clima de euforia
disseminar-se no governo federal a ponto de desviá-lo da agenda necessária para colocar o país
de vez na rota do desenvolvimento. À diferença do que pode
fazer crer o júbilo de Lula, os
problemas da economia brasileira permanecem os mesmos.
O Estado está menos endividado, mas a monta de seu passivo e,
em especial, o custo dos juros para o erário continuam exorbitantes. O peso dos impostos é menor, mas a carga é crescente e
mal distribuída, e o Brasil ainda
tributa demais em relação a economias semelhantes. Crescemos
algo além do que supúnhamos
nos últimos anos, mas em ritmo
inferior ao mundial -e sem alívio relevante no desemprego.
A principal novidade das contas refeitas pelo IBGE diz respeito a "timing". O Brasil poderá antecipar programas ambiciosos
há muito ansiados pelos agentes
econômicos, como o alívio da
carga tributária, a redução dos
juros básicos a patamares civilizados e o aumento das despesas,
públicas e privadas, em infra-estrutura -a construção civil, vale
lembrar, perdeu importância
após a reavaliação do PIB.
A condição para atacar essas
mazelas da economia -responsáveis diretas pelo baixo nível de
emprego no país- é que o poder
público reduza as suas despesas
correntes (os gastos de manutenção do governo).
Apenas mediante o encolhimento proporcional desses dispêndios será possível abater impostos e aumentar a aplicação de
recursos em geração de energia,
portos, estradas, ferrovias etc.
Todos esses vetores levam a mais
investimento produtivo na economia, garantia de crescimento
sustentado com juros baixos.
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