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CLÓVIS ROSSI
E não é que chamaram o ladrão?
LONDRES - O ministro Celso
Amorim, um formidável diplomata
e, como tal, bastante bem informado (e formado), fez na noite de domingo uma observação, digamos,
casual sobre o pacote de retirada de
ativos tóxicos do sistema financeiro
que o governo de Barack Obama
anunciaria no dia seguinte, mas cuja essência já vazara para todos os
jornais.
"Não é nada simples corrigir falhas de mercado por mecanismos
de mercado", disse o chanceler.
Bingo. No dia seguinte ao anúncio do plano, Sandro Pozzi, um dos
correspondentes do jornal espanhol "El País" nos Estados Unidos,
noticiava assim o novo pacote: "De
algum modo, a cobiça (dos potenciais investidores) e a alavancagem
(desta vez com fundos públicos),
demonizados como culpados da
crise financeira, se convertem na
receita para o resgate. E os insultados hedge funds e fundos de capital
de risco passam a ser os possíveis
protagonistas do resgate".
Seria algo como injetar nos ativos
tóxicos os componentes tóxicos
que os infectaram, na esperança de
que, agora, os expulsem. Ou, como
preferiu Paul Krugman, o Nobel de
Economia que está se tornando um
crítico de Obama, há uma "insistência em que os ativos ruins na verdade valem muito, muito mais do que
qualquer um está disposto a pagar
por eles atualmente".
Eu, que não entendo nada desse
negócio, tampouco fico constrangido desta vez em admitir que não faço a mais remota ideia sobre a viabilidade ou não do plano Geithner.
Não fico constrangido, porque li
uma penca de analistas de diferentes jornais e países e não havia um
só capaz de cravar uma certeza, para o bem ou para o mal.
Aliás, se havia mais segurança era
para o lado do mal, como no caso de
Krugman.
Seja como for, é duro ter que torcer para que os bandoleiros que assaltaram a diligência ajudem agora
o xerife a recuperar o roubado.
crossi@uol.com.br
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