São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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CLÓVIS ROSSI

E não é que chamaram o ladrão?

LONDRES - O ministro Celso Amorim, um formidável diplomata e, como tal, bastante bem informado (e formado), fez na noite de domingo uma observação, digamos, casual sobre o pacote de retirada de ativos tóxicos do sistema financeiro que o governo de Barack Obama anunciaria no dia seguinte, mas cuja essência já vazara para todos os jornais.
"Não é nada simples corrigir falhas de mercado por mecanismos de mercado", disse o chanceler. Bingo. No dia seguinte ao anúncio do plano, Sandro Pozzi, um dos correspondentes do jornal espanhol "El País" nos Estados Unidos, noticiava assim o novo pacote: "De algum modo, a cobiça (dos potenciais investidores) e a alavancagem (desta vez com fundos públicos), demonizados como culpados da crise financeira, se convertem na receita para o resgate. E os insultados hedge funds e fundos de capital de risco passam a ser os possíveis protagonistas do resgate".
Seria algo como injetar nos ativos tóxicos os componentes tóxicos que os infectaram, na esperança de que, agora, os expulsem. Ou, como preferiu Paul Krugman, o Nobel de Economia que está se tornando um crítico de Obama, há uma "insistência em que os ativos ruins na verdade valem muito, muito mais do que qualquer um está disposto a pagar por eles atualmente".
Eu, que não entendo nada desse negócio, tampouco fico constrangido desta vez em admitir que não faço a mais remota ideia sobre a viabilidade ou não do plano Geithner. Não fico constrangido, porque li uma penca de analistas de diferentes jornais e países e não havia um só capaz de cravar uma certeza, para o bem ou para o mal. Aliás, se havia mais segurança era para o lado do mal, como no caso de Krugman.
Seja como for, é duro ter que torcer para que os bandoleiros que assaltaram a diligência ajudem agora o xerife a recuperar o roubado.

crossi@uol.com.br


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