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Vigilância atrasada
O ESTADO brasileiro, apesar
de voraz consumidor de
impostos, omite-se em algumas de suas funções mais elementares. É o caso, como revelou esta Folha, da fiscalização de
produtos agrotóxicos. Bastou a
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) começar a
cumprir suas obrigações nessa
área para que surgissem diversas
irregularidades.
A agência, ligada ao Ministério
da Saúde, é um dos órgãos federais encarregados da vigilância
dos defensivos agrícolas. Sua ênfase recai sobre os reflexos dos
compostos na saúde humana. Os
outros são os ministérios da
Agricultura e do Meio Ambiente.
A agência existe desde 1999,
mas só em 2009 passou a cumprir a atribuição -e, segundo
empresas do setor, ainda em desarmonia com os ministérios.
Parece inacreditável, para uma
potência agrícola como o Brasil.
Na última década, o país tornou-se o maior consumidor de
agrotóxicos do mundo. Foram
usadas cerca de 800 mil toneladas no ano passado -mais de 4
kg por habitante.
As irregularidades constatadas
nas principais produtoras de
agrotóxicos -de substâncias
proibidas a mudanças de fórmulas sem autorização- talvez nem
possam ser consideradas graves,
tanto que a Anvisa se limitou a
processos administrativos. Mas
indicam omissão, esta sim inadmissível, pois não se concebe
que o emprego de agentes químicos com potencial de dano
permaneça anos sem vigilância.
Agrotóxicos são necessários,
mas precisam ser aplicados em
estrita obediência às normas de
segurança. Se na produção permite-se que proliferem as falhas,
o consumidor acabará por desconfiar, com razão, da capacidade de o governo impedir que trabalhadores rurais sejam contaminados e que alimentos cheguem às prateleiras em condições impróprias.
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