São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2010

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KENNETH MAXWELL

Lobby ao estilo britânico

JÁ HÁ ALGUMAS semanas o Brasil vem acompanhando o escândalo no governo do Distrito Federal. Não que grandes pagamentos em dinheiro a políticos por favores recebidos ou esperados fosse grande novidade. O que houve de diferente desta vez foi a gravação clandestina dessas transações em vídeo. As imagens se tornaram públicas. Como consequência, havia muito pouco que o ex-governador José Roberto Arruda pudesse fazer. Ele foi apanhado com a mão na massa, por assim dizer.
Esta semana foi a vez dos políticos britânicos. Na noite de segunda-feira, no programa "Dispatches", do Channel 4, Stephen Byers, ex-secretário do Comércio e Transportes pelo Partido Trabalhista, foi mostrado em um vídeo que o exibe se oferecendo como "uma espécie de carro de aluguel".
A entrevista foi conduzida por um repórter disfarçado como representante de uma companhia norte-americana e registrada por uma câmera oculta em uma travessa decorativa; ela aconteceu como parte de uma reportagem investigativa empreendida pelo jornal "Sunday Times" de Londres e pelo Channel 4. Byers declarou que seus honorários eram de 5.000 ao dia.
Ele alegou que havia feito lobby junto ao lorde Mandelson, o secretário britânico de Negócios, para revogar um regulamento sobre rótulos de alimentos em benefício da cadeia britânica de supermercados Tesco. Lorde Mandelson e a Tesco negam a alegação.
Patricia Hewitt, antiga secretária da Saúde britânica, foi gravada alegando que havia ajudado a obter uma posição para um cliente em um painel de consultoria ao governo por 3.000 por dia. Um antigo secretário da Defesa, Geoff Hoon, também foi gravado alegando que cobrava 3.000 por dia e que desejava transformar seus contatos em, "francamente, algo que dê dinheiro".
Além disso, Margaret Moran, membro do Parlamento pelos trabalhistas, se vangloriou de sua capacidade de mobilizar uma "quadrilha de garotas" formada por suas colegas em benefícios de clientes. O grupo incluiria, segundo ela, a antiga secretária do Interior Jacqui Smith, a antiga secretária de Comunidades Hazel Blears e a vice-líder do Partido Trabalhista, Harriet Harman.
Essas atividades não são ilegais. Mas, com o primeiro-ministro Gordon Brown a ponto de convocar uma eleição geral, provavelmente para o dia 6 de maio, as revelações não poderiam ter surgido em momento mais desfavorável.
O Partido Trabalhista suspendeu os três ex-ministros, bem como Margaret Moran.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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