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KENNETH MAXWELL
Lobby ao estilo britânico
JÁ HÁ ALGUMAS semanas o Brasil vem acompanhando o escândalo no governo do Distrito Federal. Não que grandes pagamentos em dinheiro a políticos por favores recebidos ou esperados fosse
grande novidade. O que houve de
diferente desta vez foi a gravação
clandestina dessas transações em
vídeo. As imagens se tornaram públicas. Como consequência, havia
muito pouco que o ex-governador
José Roberto Arruda pudesse fazer. Ele foi apanhado com a mão na
massa, por assim dizer.
Esta semana foi a vez dos políticos britânicos. Na noite de segunda-feira, no programa "Dispatches", do Channel 4, Stephen
Byers, ex-secretário do Comércio e
Transportes pelo Partido Trabalhista, foi mostrado em um vídeo
que o exibe se oferecendo como
"uma espécie de carro de aluguel".
A entrevista foi conduzida por
um repórter disfarçado como representante de uma companhia
norte-americana e registrada por
uma câmera oculta em uma travessa decorativa; ela aconteceu como
parte de uma reportagem investigativa empreendida pelo jornal
"Sunday Times" de Londres e pelo
Channel 4. Byers declarou que seus
honorários eram de 5.000 ao dia.
Ele alegou que havia feito lobby
junto ao lorde Mandelson, o secretário britânico de Negócios, para
revogar um regulamento sobre rótulos de alimentos em benefício da
cadeia britânica de supermercados
Tesco. Lorde Mandelson e a Tesco
negam a alegação.
Patricia Hewitt, antiga secretária da Saúde britânica, foi gravada
alegando que havia ajudado a obter
uma posição para um cliente em
um painel de consultoria ao governo por 3.000 por dia. Um antigo
secretário da Defesa, Geoff Hoon,
também foi gravado alegando que
cobrava 3.000 por dia e que
desejava transformar seus contatos em, "francamente, algo que dê
dinheiro".
Além disso, Margaret Moran,
membro do Parlamento pelos trabalhistas, se vangloriou de sua capacidade de mobilizar uma "quadrilha de garotas" formada por
suas colegas em benefícios de
clientes. O grupo incluiria, segundo ela, a antiga secretária do Interior Jacqui Smith, a antiga secretária de Comunidades Hazel Blears e
a vice-líder do Partido Trabalhista,
Harriet Harman.
Essas atividades não são ilegais.
Mas, com o primeiro-ministro
Gordon Brown a ponto de convocar uma eleição geral, provavelmente para o dia 6 de maio, as revelações não poderiam ter surgido
em momento mais desfavorável.
O Partido Trabalhista suspendeu os três ex-ministros, bem como Margaret Moran.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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