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MARCELO BERABA
Chega de avacalhação
RIO DE JANEIRO - O futuro secretário
de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho, começou bem. Seu
primeiro ato foi a audiência ontem
de manhã, em Brasília, com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Foi uma iniciativa correta, bem
pensada, com o intuito evidente de
deixar claro que o governo do Rio
tem todo o interesse em manter abertos os canais de diálogo com o governo federal. É um gesto importante,
porque uma das causas do desgaste
da governadora Rosinha Garotinho
no Rio é, seguramente, a idéia de que
seu governo é intransigente e se preocupa mais em atacar o PT do que em
gerir as crises do Estado.
Ao deixar a audiência com o ministro, Garotinho sublinhou a necessidade de um entendimento entre os
dois governos. "Os desentendimentos
só interessam aos bandidos", disse.
"São coisas do passado. Queremos virar uma página." E convidou o ministro para a sua posse, na segunda.
Perfeito, não fosse um pequeno detalhe. A 1.200 km de Brasília, em Piraí, no interior do Estado, no mesmo
instante em que Garotinho era recebido pelo ministro, Rosinha aproveitava a inauguração de uma nova delegacia para baixar o sarrafo mais
uma vez no governo federal.
Palavras suas, uma referência indireta à informação vazada semana
passada de que o Planalto estudava
até mesmo uma intervenção no Estado para fazer frente ao descontrole
na área de segurança: "(...) Se o governo federal realmente estivesse fazendo parcerias, em vez de algumas
pessoas quererem intrigar pela imprensa e criar discórdia para desestabilizar o meu governo, se estivessem
trabalhando, não teriam tempo para
intriga. (...) Mas eu não vou permitir
que avacalhem o meu governo".
É até possível que a governadora tenha razão na essência. Mas a forma
como as divergências entre os dois
governos vêm sendo tratadas mostra
como está difícil virar a página. E faz
supor que, infelizmente, o combate à
criminalidade vá continuar contaminado pelo ressentimento mútuo.
Mais do que de um xerife, o Rio precisava agora de um estadista.
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