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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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MARCELO BERABA

Chega de avacalhação

RIO DE JANEIRO - O futuro secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho, começou bem. Seu primeiro ato foi a audiência ontem de manhã, em Brasília, com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Foi uma iniciativa correta, bem pensada, com o intuito evidente de deixar claro que o governo do Rio tem todo o interesse em manter abertos os canais de diálogo com o governo federal. É um gesto importante, porque uma das causas do desgaste da governadora Rosinha Garotinho no Rio é, seguramente, a idéia de que seu governo é intransigente e se preocupa mais em atacar o PT do que em gerir as crises do Estado.
Ao deixar a audiência com o ministro, Garotinho sublinhou a necessidade de um entendimento entre os dois governos. "Os desentendimentos só interessam aos bandidos", disse. "São coisas do passado. Queremos virar uma página." E convidou o ministro para a sua posse, na segunda.
Perfeito, não fosse um pequeno detalhe. A 1.200 km de Brasília, em Piraí, no interior do Estado, no mesmo instante em que Garotinho era recebido pelo ministro, Rosinha aproveitava a inauguração de uma nova delegacia para baixar o sarrafo mais uma vez no governo federal.
Palavras suas, uma referência indireta à informação vazada semana passada de que o Planalto estudava até mesmo uma intervenção no Estado para fazer frente ao descontrole na área de segurança: "(...) Se o governo federal realmente estivesse fazendo parcerias, em vez de algumas pessoas quererem intrigar pela imprensa e criar discórdia para desestabilizar o meu governo, se estivessem trabalhando, não teriam tempo para intriga. (...) Mas eu não vou permitir que avacalhem o meu governo".
É até possível que a governadora tenha razão na essência. Mas a forma como as divergências entre os dois governos vêm sendo tratadas mostra como está difícil virar a página. E faz supor que, infelizmente, o combate à criminalidade vá continuar contaminado pelo ressentimento mútuo.
Mais do que de um xerife, o Rio precisava agora de um estadista.


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