São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 2006

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ALERTA NOS TRANSPLANTES

Médicos e pacientes já desconfiavam de que o sistema nacional de transplantes apresentava uma série de problemas, incluindo vulnerabilidade a fraudes. O que eram suspeitas acabam de ganhar materialidade com a recente auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União apontando desorganização e falta de segurança no sistema.
A situação preocupa. De acordo com o tribunal, não há controle sobre quem tem acesso à lista única. A ordem de inscrição na fila pode ser facilmente alterada. Além disso, as centrais de transplante estaduais e regionais não se comunicam, o que pode levar ao desperdício de órgãos.
Existem no Brasil 62.785 doentes (dado de maio de 2005) à espera de um transplante. Para pouco mais de 10% deles, que aguardam um órgão vital cujas funções não podem ser substituídas por máquinas, a operação é a única esperança.
É fundamental, portanto, cuidar para que o sistema de transplantes, no qual o país investe R$ 400 milhões por ano, funcione adequadamente. O mínimo que se espera é que as centrais sejam capazes de comunicar-se. Mas apenas isso não basta.
É preciso melhorar a captação. Em 2004, o Brasil registrou 5.050 mortes encefálicas, mas apenas 1.417 resultaram em doações, um aproveitamento de 28%, quando o ideal seria conseguir de 40% a 45%.
A principal barreira é a falta de incentivos à formação de equipes capazes de fazer o diagnóstico do óbito encefálico (que nada tem de trivial), providenciem a autorização da família e a retirada dos órgãos. Vários hospitais nem ao menos notificam as suspeitas de morte encefálica, pois não possuem pessoal e equipamentos adequados para confirmá-la.
Como se já não bastassem todos esses problemas, notícias de que o sistema não é confiável normalmente contribuem para reduzir ainda mais o número de doações. É inadmissível que, na era dos computadores, o Ministério da Saúde não consiga organizar uma fila.


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