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CLÓVIS ROSSI
E o Nobel do Cinismo vai para...
SÃO PAULO - Estou abrindo uma
subscrição pública para comprar
uma casinha para o pobre deputado
Domingos Dutra (PT-MA), que diz
temer ser obrigado, "daqui a pouco,
a andar de jegue, morar em casa de
palafita e mandar mensagens por
pombo-correio".
Coitadinho. Não sei se choro de
dó ou recomendo o ilustre pai da
pátria para o Prêmio Nobel do Cinismo, a ser ainda criado, mas que
será, fatalmente, atribuído a um
congressista brasileiro (ou a todos
eles de cambulhada).
O coitadinho do Dutra só esqueceu que: 1) tem casa de graça em
Brasília, paga por nós; 2) tem uma
verba para gastar com correspondência que daria para inundar de
papel uma cidade pequena; 3) carro
é o que não falta para os pais da pátria. Se faltasse, o gordo salário que
ganham daria para comprar ao
menos um.
É, portanto, de um cinismo imbatível, digno de prêmio. Aliás, o seu
partido, o PT, enchia a boca antigamente para reclamar dos privilégios de que gozavam os parlamentares (os "300 picaretas" de Lula,
lembra-se?). Chegou ao poder e
lambuza-se no gozo das vantagens a
ele inerentes, para não falar nos
trambiques que levaram o procurador-geral da República, com o aval
do Supremo Tribunal Federal, a rotular suas principais lideranças de
"organização criminosa".
Mas o coitadinho do Dutra não
está sozinho na disputa pelo Nobel
do Cinismo. O líder do PTB, Jovair
Arantes, aquele mesmo que confunde as "coisas" públicas com as
suas "coisas", agora pergunta, ante
a ameaça de cancelamento das passagens para parentes de deputados:
"Não posso mais trazer minha filha
para dormir comigo?".
Pode, Arantes. É só pagar a passagem, como fazemos todos os mortais comuns.
Repito: essa gente toda acha que
maracutaias, trambiques e privilégios são direitos adquiridos. O Nobel do Cinismo seria pouco.
crossi@uol.com.br
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