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RUY CASTRO
Mais que "MPB"
RIO DE JANEIRO - Outro dia, numa reunião do Museu da Imagem e
do Som, aqui no Rio, alguém sugeriu que o MIS, já pioneiro dos museus do gênero no Brasil, banisse de
seus documentos e discussões a sigla "MPB". E, até pedagogicamente,
voltasse a usar as palavras certas:
música popular brasileira.
Ué, dirá você, não é a mesma coisa? "MPB" não é apenas uma abreviatura de "música popular brasileira"? Antes cêsse, mas não ésse.
Quando foi criada, por volta de 1965
ou 1966, significava um tipo de música então emergente, que não se
sabia bem o que era -mas já não era
bossa nova, não queria mais ser o
samba e, muito menos, iê-iê-iê.
Seu primeiro produto, ainda sem
o rótulo, pode ter sido "Arrastão",
de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.
Logo vieram "Lunik 9", de Gilberto
Gil, "Upa, neguinho", de Edu e
Guarnieri, "Roda Viva", de Chico
Buarque, e outras que, com um certo "conteúdo" em comum, também
não se encaixavam em nenhum gênero familiar. Donde só podiam ser
"MPB".
Quando a "MPB" minguou, dois
ou três anos depois, a sigla sobreviveu e começou a ser aplicada -até
hoje- a toda música produzida no
Brasil, do padre José Mauricio ao
padre Marcelo e de Chiquinha Gonzaga ao É o Tchan. Com isso, deseducaram-se várias gerações quanto
à memória da nossa diversidade rítmica, até então classificada por
sambas (em suas mil variações),
marchas, choros, baiões, frevos, valsas, foxes, baladas, cocos etc. Virou
tudo "MPB".
Mas não para sempre, espero. Se
o exemplo do MIS vingar, vamos
passar a chamar "Garota de Ipanema" de samba, "Alegria, Alegria", de
marchinha, "Domingo no Parque",
de baião, "Travessia", de toada, "Caminhando", de guarânia, "Mania de
Você", de rumba, "Beatriz", de valsa, ou "Como uma Onda", de bolero.
Que, muito mais que "MPB", é o
que eles são.
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