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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Brasil: uma matriz energética exemplar

Na última quarta-feira, tive a honra de conversar com o presidente Lula sobre o assunto que mais interessa aos brasileiros: a expansão da produção e do emprego.
Entre os temas tratados, despontou a questão da energia, em especial a eletricidade. Os jornais dizem que está sobrando eletricidade, o que teria causado a crise do setor. Penso o contrário. No Brasil não sobra eletricidade, falta crescimento. As melhores estimativas indicam que o país irá crescer apenas 1,5% em 2003, o que não dará para empregar a metade das pessoas que precisam trabalhar.
O grande desafio é chegar aos 4%, 5% ou 6% ao ano. Mas, se isso acontecesse hoje, o crescimento seria travado por falta de eletricidade. Voltariam os blecautes.
Ao mesmo tempo, dispomos de uma das melhores matrizes energéticas do mundo. Somos um dos poucos países que podem explorar alternativas não-poluentes, como as energias hídrica, eólica e solar e o álcool.
O avanço na energia hídrica está sendo impedido em grande parte pelos excessos de burocracia que cercam as exigências ambientais. É claro que a construção de uma usina elétrica em um rio afeta o ambiente. Mas a reparação disso faz parte do próprio projeto. É inadmissível que se pare de construir usinas hidrelétricas por causa de fantasmas criados por quem nos leva à estagnação.
No caso da energia eólica, há ainda problemas técnicos que exigem investimentos em pesquisa. O mundo subsidia os energéticos fósseis (petróleo, carvão e gás) em, no mínimo, US$ 200 bilhões anuais. Está na hora de direcionar alguns recursos para as fontes alternativas, pois, mesmo com pouca pesquisa, elas já se mostram promissoras.
O uso adequado dos ventos do mundo, por exemplo, está permitindo uma produção de eletricidade equivalente a duas vezes a de Itaipu! Isso é animador. O custo da energia eólica, que já era baixo, caiu 20% nos últimos cinco anos. Os progressos técnicos são notáveis. Já se produzem geradores de 5.000 quilowatts a 30.000 quilowatts, que funcionam no mar e na terra, para bem aproveitar os ventos do mundo. E, quando faltam ventos, estudam-se os sistemas híbridos, que usam o álcool, o carvão e, em última instância, o petróleo (Janet Sawin, "Charting a New Energy Future", 2003).
A Alemanha e a Dinamarca acumularam uma preciosa experiência nesse campo. Entre 1990 e 2000, os preços das turbinas eólicas caíram em quase 50% -e isso vai continuar. A produção desse tipo de energia avançará rapidamente.
O Brasil acertou no encontro de Johannesburgo, em 2002, quando tentou estabelecer uma meta de produção de energias alternativas para todo o planeta. Foi voto vencido. Mas isso não impede que avancemos com nossas próprias pernas no campo dessas alternativas, o que é fundamental para chegarmos a um crescimento de 4% ou 5% ao ano -usando cerca de 60% de energia renovável.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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