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DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
O discurso do presidente
George W. Bush de guerra ao
terrorismo em todas as suas modalidades parece estar sujeito ao critério
de dois pesos e duas medidas. Na
primeira oportunidade que tem para
provar que sua determinação antiterrorista está acima de preferências políticas, a Casa Branca mostra que antigas amizades e novas inimizades
valem mais do que princípios.
A oportunidade perdida atende pelo nome de Luis Posada Carriles. Trata-se de um cubano anticastrista treinado pela CIA que foi preso na semana passada nos EUA por violação de
leis de imigração. Posadas é acusado, entre outros crimes, de ter planejado o atentado a um avião cubano
na Venezuela, em 1976, que matou
73 pessoas. Posada, naturalizado venezuelano, estava sendo julgado pela
sabotagem na Venezuela quando
conseguiu fugir da cadeia em 1985.
A única atitude digna nesse caso seria devolver Posada para as autoridades venezuelanas. Os dois países
possuem um acordo de extradição.
Em vez de agir celeremente, porém,
os EUA parecem hesitar em entregar
o antigo colaborador ao presidente
Hugo Chávez, com quem mantêm
uma relação cada vez mais difícil e
conturbada. Fala-se mesmo que
Washington estaria cogitando de extraditar Posada para El Salvador, onde ele é acusado de crimes menores.
Qualquer solução que não resulte
no julgamento de Posada pelo crime
de terrorismo na Venezuela ou em
Cuba, as duas jurisdições primárias,
representará um golpe contra o direito internacional. Mesmo a menos rígida das definições de terrorismo
precisa considerar como crime o ato
de sabotagem contra avião civil que
resulte na morte de dezenas de pessoas. Mais do que isso, a tergiversação de Washington expõe a fragilidade da retórica do presidente Bush,
que, apesar de falar em combate sem
tréguas ao terror, parece disposto a
proteger um anticastrista treinado
pelos EUA acusado de terrorismo.
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