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FERNANDO RODRIGUES
Otimismo e realidade
SEUL - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, é um profissional
do otimismo. É natural e compreensível que um integrante do governo
prefira dar declarações positivas em
vez de ressaltar o que há de ruim na
administração pública. A arte está
em saber quando o discurso passa a
se descolar da realidade.
Aqui, na Coréia do Sul, Palocci vestiu seu uniforme panglossiano. Disse
que a crise política não afetará a economia além de um eventual solavanco inicial. Para ele, o país está blindado pelos próximos dez a 20 anos.
Seria bom que essas certezas fossem
realidades absolutas. Não são. O ministro diz acreditar, por exemplo, que
o Congresso restabelecerá uma agenda de votações depois de tomar sua
decisão a respeito da CPI dos Correios. Não é algo impossível, mas,
convenhamos, é muito difícil.
A conversa ontem entre integrantes
da comitiva de Lula em seu giro pela
Ásia era sobre a brilhante estratégia
escolhida para retirar assinaturas de
apoio à CPI dos Correios: fazer uma
lista de 50 ou mais nomes que sairiam todos de uma vez. É como se esses deputados fossem seguidores de
Jim Jones -praticariam suicídio
eleitoral coletivo.
Na melhor das hipóteses, o Congresso passará as próximas semanas
convulsionado. Em seguida, vem o
recesso de julho. Depois, o prazo final
para as filiações partidárias que valem para a eleição de 2006. E fim.
Ao edulcorar a realidade, Palocci
falou dos esforços (sic) para reduzir o
déficit da Previdência. Voltou a usar
a expressão em voga no governo,
"choque de gestão", cujo significado é
indecifrável para a maioria dos petistas. Indagado sobre por que o governo não propõe uma lei para criar
fundos de pensão auto-sustentáveis
para o funcionalismo federal, reconheceu que aí existe "um atraso".
Emendou dizendo que o projeto pode ficar pronto ainda neste semestre.
De fato, poder, pode, mas certamente
não será aprovado enquanto o governo estiver refém de sua crise política
mais grave desde a posse.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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