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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Lamentável!
NA ÚLTIMA semana, a imprensa noticiou com grande destaque a má qualidade
do ensino público em São Paulo. Isso atinge metade das escolas do ensino fundamental e 60% das escolas do ensino médio. Neste nível, o
quadro é escandaloso. Em uma escala que varia de 0 a 10, o índice de
qualidade do ensino médio é de
apenas 1,41. Uma calamidade.
Várias causas foram apontadas,
tais como: 1) a falta de professores
de matemática, física, química, história e geografia; 2) a ausência de
interesses dos adolescentes pelos
conteúdos ensinados; 3) a má gestão e o pouco envolvimento dos
professores e dos diretores com a
escola; 4) a precariedade das condições nas quais os professores são
obrigados a trabalhar.
Não desprezo nenhum desses fatores, pois, afinal, são resultado de
uma pesquisa séria. Mas, pelo que
ouço das pessoas e pelo que leio nas
páginas policiais, acredito que a deterioração do respeito humano que
reina nas escolas públicas brasileiras seja uma das mais importantes
causas.
A realidade no ensino médio é
dramática. Os professores foram
encurralados pelos adolescentes.
Muitos têm medo de entrar na sala
de aula por terem sofrido impropérios verbais e até agressões físicas.
Na maioria das escolas, os alunos
se organizam em bandos para
ofender funcionários, professores
e diretores e também para depredar as instalações. São jovens que
revelam um sentimento de ódio e
que praticam essas agressões como
parte de uma pseudocidadania
que, na verdade, é característica
das leis da selva, e não das regras
da democracia.
Num ambiente como esse, só
resta o faz-de-conta de um que ensina e de outro que apreende.
É claro que há exceções. Ainda
contamos com uma parcela de funcionários, professores e diretores
abnegados, corajosos e dedicados,
e que trabalham como heróis dentro de uma situação que piora a
cada dia.
As causas apontadas pela pesquisa são contornáveis por meio de
ações combinadas de formação e
de incentivo aos professores e gestores. Mas a recuperação do respeito humano é um desafio monumental, pois reflete as mazelas da
nossa sociedade e os maus exemplos que os adultos protagonizam
na vida real e na ficção das novelas.
Apesar do enorme desafio, não
podemos esmorecer. Para chegar a
uma boa educação, teremos de resgatar o respeito e criar um ambiente saudável para o ensino e o aprendizado. Para tanto, faz-se urgente
uma grande campanha de recuperação dos valores.
Ela terá de ser contínua e envolver toda a sociedade.
antonio.ermirio antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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