São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Os ricos e seus riscos

OS PLANOS de resgate dos sistemas financeiros e os programas de estímulo às economias terão grandes repercussões sobre as dívidas públicas dos países desenvolvidos. Alguns analistas já sugerem que o impacto fiscal da crise financeira atual será equivalente ao de uma guerra em grande escala.
Estima-se que a dívida do governo britânico represente 69% do PIB no ano que vem. Nos EUA, o indicador pode atingir 82%. A dívida pública americana saltou de 42% do PIB em 1940 para 110% em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial. Depois reduzida paulatinamente, chegou a 25% do PIB em 1970.
Com as contas do Reino Unido em deterioração, a agência de classificação de riscos Standard & Poor's colocou em revisão a nota do país de "estável" para "negativa". Rebaixada, a nação perderia a nota máxima, isto é, o risco tido como inexistente de aplicar um calote.
Nos últimos meses, Espanha, Portugal, Irlanda, Grécia e Islândia já tiveram suas notas de crédito reduzidas ou colocadas em perspectiva de baixa. Nesse cenário, surgiram rumores de que a nota do Tesouro americano também seria rebaixada. Os boatos incitaram um surto de fuga do dólar e da libra, acentuado no final da semana passada, redundando em aguda desvalorização diante do euro e do iene.
Se ocorrer, a redução das notas de Reino Unido e EUA não significará risco elevado de insolvência. Mas aumentará o custo das dívidas públicas, com investidores exigindo juros mais altos para emprestar a esses países.
Países desenvolvidos começam a experimentar o estrago que os veredictos, não raro estapafúrdios e arbitrários, de agências de risco desencadeiam nas finanças nacionais. Tais agências, vale lembrar, abonaram alegremente a farra irresponsável que se fez a partir de hipotecas americanas de altíssimo risco.
Crise após crise, sedimenta-se a convicção de que o comportamento das agências de risco é, ele próprio, um grande risco. Elas ajudam a aprofundar as turbulências financeiras, como bem sabem os países emergentes. Esta crise, por sua abrangência e intensidade, deveria deixar como legado positivo a regulamentação da atividade desses rotuladores da solvência alheia.


Texto Anterior: Editoriais: O drible do sonegador
Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: A Petrobras é nossa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.