|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Contradições de um gigante
RIO DE JANEIRO - Na mesma medida em que o poder tecnológico e
econômico dos Estados Unidos não
pode ser contestado, aumentam a
cada década, e agora quase a cada
dia, dúvidas sobre a sua eficiência
política e, sobretudo, sobre a moralidade de seus interesses.
Desde o término da Segunda
Guerra Mundial, quando, à frente
dos aliados contra o nazifascismo,
viveram sua "finest hour" histórica,
dando de lambuja o Plano Marshall
que ajudou na reconstrução de Europa destroçada, os Estados Unidos
patinam em campanhas inglórias,
sem tirar os pés do pântano que inclui as guerras da Coreia e do Vietnã, a Baía dos Porcos (até que o nome vem a calhar), quando tentaram
invadir Cuba, a interminável e dolorosa ambiguidade na questão do
Oriente Médio, e na truculência da
invasão do Iraque.
É uma pena. Acredita-se que todos gostaríamos de gostar, e gostar
muito, dos Estados Unidos, por tudo de maravilhoso que produziram, desde a lâmpada elétrica à dupla Fred Astaire e Ginger Rogers,
passando pelo gramofone e pelo
sanduíche com uma porção de coisas, inclusive com aquela inútil
mas decorativa folha de alface.
Não deve existir um único ser humano na face da Terra que não deva, direta ou indiretamente, alguma coisa de grande ou de ínfimo, de
coletivo ou de pessoal aos Estados
Unidos.
Ora, dirão, a onda contra os americanos é fruto do ressentimento do
mais fraco contra o mais forte. Ou
até mesmo da pura e humaníssima
inveja.
Não é verdade. A França teve
mais do que seus 15 minutos de glória e hegemonia política e cultural.
A Inglaterra também.
Descontadas as exceções de praxe e circunstância, eles não provocaram a histeria, o ódio que os Estados Unidos estão despertando cada
vez mais em gênero, grau e amplitude.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Adoção Próximo Texto: Marcos Nobre: Errar é do jogo Índice
|