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MARCOS NOBRE
Errar é do jogo
O Irã vai continuar desenvolvendo a bomba. Só uma revolução democrática poderia
impedir o complexo militar-religioso iraniano de levar esse projeto até o fim. E uma revolução como essa, no momento, não está à vista.
Quando o Irã fizer seus primeiros testes nucleares, Lula
há muito terá deixado a Presidência. O clima por aqui será
de festa, com a sequência de
Copa do Mundo e Olimpíada.
Mas a foto da patética comemoração do acordo, de mãos
dadas e braços erguidos, será
então relembrada por toda
parte. E não é assim que se faz
uma boa diplomacia independente.
É verdade que, no caso do
Irã, aplicar sanções não vai resolver nada. Mas serve pelo
menos para manter o problema em evidência, com a pressão de uma opinião pública
que pode dar força à oposição
democrática iraniana.
É o máximo que se pode fazer. Porque a própria conversa
das sanções é jogo para a plateia. O governo Obama está
acuado internamente a produzir sanções duras. E tem de
tentar segurar seu aliado israelense, cujo atual governo é
composto de reacionários insensatos que realmente querem bombardear o Irã.
Já China e Rússia fazem firula e dizem que são contra.
Depois aparentam ceder e acabam apoiando sanções inócuas, que não prejudicam em
nada seus negócios e interesses. E tudo fica como dantes.
Por que então o Brasil foi escolher justamente o imbróglio
mais enrolado do mundo para
entrar? É que ter ou não a
bomba é senha de entrada no
Conselho de Segurança da
ONU. A diplomacia brasileira
quis mostrar que também países sem a bomba merecem
uma cadeira permanente no
conselho.
O episódio do Irã mostra
que os objetivos de 15 anos da
diplomacia brasileira precisam ser revistos e repensados.
Concentrar esforços na briga
por uma cadeira permanente
no Conselho de Segurança da
ONU e por um bom acordo global de comércio na OMC podia
fazer sentido na década de
1990, quando se tinha ainda a
ilusão de que uma grande reforma da ONU seria possível.
Manter essa ilusão hoje pode custar caro.
Mas nem mesmo isso é o essencial no caso do acordo com
o Irã. O Brasil ter se comportado como laranja nessa história
não invalida o fato de que tem
mesmo de testar o seu tamanho para achar sua nova posição internacional. Tem de arriscar.
Porque o tamanho do país
mudou. E errar é do jogo. Só
deixa de ser do jogo se vira
uma questão meramente eleitoral. Ou se o erro se repete.
Com essa tentativa, o Brasil
errou, mas disse a que veio,
mostrou sua cara. Só um novo
erro de mesmas proporções
poderia ser realmente fatal para as pretensões brasileiras no
cenário internacional.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
nobre.a2@uol.com.br
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