|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Crise à espanhola
A hecatombe econômica global
desencadeada em 2008 infligiu
mais uma derrota eleitoral a um
governo que patinava no combate
à crise, desta vez na Espanha.
A situação financeira espanhola é, no mínimo, preocupante. O
país tem lugar cativo na lista de
candidatos a recorrer a um socorro de bilhões de euros, juntando-se a Portugal, Irlanda e Grécia. O
desemprego, em 21%, é mais que o
dobro da média europeia; entre jovens, ultrapassa 45%.
A crise econômica estabelece
uma engrenagem perversa para
os governantes. Depois de gastar
bilhões no socorro aos bancos e na
tentativa de manter a economia à
tona, são obrigados a realizar um
forte ajuste fiscal, com corte de
despesas e benefícios sociais, para tentar recompor suas contas.
Se hesitam em fazê-lo, acabam
por aprofundar a penúria econômica no longo prazo, o que os deixa em má situação com a população. Mas, ao seguir a cartilha financeira e tomar decisões impopulares, ficam vulneráveis ao descontentamento dos eleitores.
No poder desde 2004, o premiê
José Luis Rodríguez Zapatero conseguiu trilhar os dois caminhos.
Primeiro, resistiu a medidas de
austeridade. Depois, encurralado,
optou pelo ajuste. Ajudou a levar,
assim, seu PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), de centro-esquerda, a humilhante derrota
nas eleições regionais e municipais -de peso maior na Espanha
que no Brasil, dado o grau de autonomia dessas entidades.
O resultado abre caminho para
a vitória do opositor PP (Partido
Popular) no pleito nacional, cujo
prazo-limite é março de 2012.
O enredo espanhol se desenrola
contra um pano de fundo particular, com milhares de pessoas a
ocupar praças do país, em sua
maioria jovens que ganharam o
qualificativo de "indignados". O
movimento parece repudiar a política institucionalizada, mas seria
precipitado concluir que daí possa
emergir uma ruptura comparável
à observada nas praças árabes.
Para além de toda a espuma
produzida pelos protestos, o comparecimento às urnas foi de 66%,
em um país onde o voto não é obrigatório. É um percentual maior
que o da eleição de Obama, uma
das mais mobilizadas dos EUA.
Mesmo com um aumento na
quantidade de votos nulos, o caso
espanhol assinala o fato de que a
democracia continua a ser a via
preferencial de transformação.
Texto Anterior: Editoriais: Deficit carcerário Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Palocci Fiction Índice | Comunicar Erros
|