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ELIANE CANTANHÊDE
A vida ou a bolsa
BRASÍLIA - Lula chega hoje ao Brasil depois de fazer palestras em Nova
York e de comemorar a aprovação do
mínimo de R$ 260. Mas já com novos
abacaxis para descascar.
Um deles é o projeto que cria o Fundo Nacional de Assistência às Vítimas de Crimes Violentos praticados
pela polícia -ou seja, pelo Estado.
Em resumo, o texto propõe indenização ou pensão para as famílias atingidas por chacinas, por exemplo.
Aprovado rapidinho no Senado, foi
retirado da Câmara pelo governo,
que o classifica de "INSS do crime".
Poderia ser apenas mais um entre
milhares de projetos que vagueiam
no circuito governo-Câmara-Senado.
Mas não é. Primeiro, porque mexe
com violência, com segurança pública e com a mãe dos outros. Depois,
pela origem: seu autor é, nada mais
nada menos, José Sarney, que o Planalto e o PT não param de bajular
desde a derrota do governo na votação do salário mínimo no Senado
(atribuída em parte a ele) e da vitória
posterior na Câmara (idem).
Uma comissão de mães de mortos
em chacinas no Rio já fez vigília na
porta de Lula em São Bernardo (SP)
e agora se diz de malas prontas para
ir ao Alvorada ou ao Planalto em favor do projeto de Sarney. O princípio
que defendem: governo que não garante segurança pública tem de compensar as vítimas. Mas, entre o princípio e a realidade, há o caixa. O governo diz que não tem dinheiro.
E deve não ter mesmo, porque não
está liberando verbas para os Estados
nem de fundos já existentes, como o
das penitenciárias e o da própria segurança. Como pretenda que libere
para um fundo que nem criado foi
ainda? Se é que será um dia...
O fato é que Sarney está por cima
da carne-seca, quer aprovar a emenda da sua reeleição à presidência do
Senado e ser muito bem tratado por
Lula. Além disso, governo do PT batendo a porta na cara das "mães do
Rio" ou das "viúvas do crime" ou
qualquer outra coisa dessas não pega
bem. Ainda mais depois de tão acusado de virar as costas às bandeiras e
aos aliados históricos. E de aprovar
um salário mínimo tão mínimo.
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