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GABRIELA WOLTHERS
Sinais invertidos
RIO DE JANEIRO - Os nomes são esdrúxulos -Anaconda, Shogun, Lince, Vampiro-, mas chamam a atenção as operações que a Polícia Federal vem desencadeando pelo país.
Não só por causa das prisões, mesmo
que temporárias, de juízes, membros
do governo, lobistas, contrabandistas
e criminosos em geral mas também
pelo fato de estarem investigando e
prendendo policiais federais. Ou seja,
cortando na própria carne.
As sensações ao acompanhar as
ações da PF são contraditórias. Primeiro vem o desânimo de constatar
que a corrupção nos órgãos públicos
brasileiros é mesmo endêmica. A outra -talvez um pouco Poliana- é a
de que alguns corruptos e criminosos
que agiam livremente havia anos estão agora pelo menos levando um
susto.
Essa é a mesma impressão que se
tem ao analisar o desempenho do governo federal no combate à corrupção. O governo que dá liberdade para
a Polícia Federal agir é o mesmo que
perpetua a prática de nomear políticos, alguns com currículos nada abonadores, para cargos técnicos da administração pública.
O caso mais notório envolve o senador Luiz Otávio. Réu no Supremo
Tribunal Federal por suspeita de desvio de dinheiro público, foi indicado
para o Tribunal de Contas da União
-responsável, justamente, por analisar a lisura dos gastos do governo. A
presidência do INSS, um dos maiores
orçamentos do país, foi entregue ao
ex-senador Carlos Bezerra, que é investigado pelo TCU, Polícia Federal,
Ministério Público Federal e Controladoria Geral da União. Isso sem falar na lista sem fim de diretorias de
bancos oficiais, Correios, Petrobras,
Eletrobrás...
Nomeação política não é sinônimo
de corrupção. Um governo tem o direito de colocar pessoas de confiança
em postos chaves. Mas, quando autoriza nomeações só para agradar aliados cuja lisura é posta em dúvida, o
governo entra em terreno perigoso.
Cerca a corrupção de um lado e deixa
a porteira entreaberta de outro.
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