São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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GABRIELA WOLTHERS

Sinais invertidos

RIO DE JANEIRO - Os nomes são esdrúxulos -Anaconda, Shogun, Lince, Vampiro-, mas chamam a atenção as operações que a Polícia Federal vem desencadeando pelo país. Não só por causa das prisões, mesmo que temporárias, de juízes, membros do governo, lobistas, contrabandistas e criminosos em geral mas também pelo fato de estarem investigando e prendendo policiais federais. Ou seja, cortando na própria carne.
As sensações ao acompanhar as ações da PF são contraditórias. Primeiro vem o desânimo de constatar que a corrupção nos órgãos públicos brasileiros é mesmo endêmica. A outra -talvez um pouco Poliana- é a de que alguns corruptos e criminosos que agiam livremente havia anos estão agora pelo menos levando um susto.
Essa é a mesma impressão que se tem ao analisar o desempenho do governo federal no combate à corrupção. O governo que dá liberdade para a Polícia Federal agir é o mesmo que perpetua a prática de nomear políticos, alguns com currículos nada abonadores, para cargos técnicos da administração pública.
O caso mais notório envolve o senador Luiz Otávio. Réu no Supremo Tribunal Federal por suspeita de desvio de dinheiro público, foi indicado para o Tribunal de Contas da União -responsável, justamente, por analisar a lisura dos gastos do governo. A presidência do INSS, um dos maiores orçamentos do país, foi entregue ao ex-senador Carlos Bezerra, que é investigado pelo TCU, Polícia Federal, Ministério Público Federal e Controladoria Geral da União. Isso sem falar na lista sem fim de diretorias de bancos oficiais, Correios, Petrobras, Eletrobrás...
Nomeação política não é sinônimo de corrupção. Um governo tem o direito de colocar pessoas de confiança em postos chaves. Mas, quando autoriza nomeações só para agradar aliados cuja lisura é posta em dúvida, o governo entra em terreno perigoso. Cerca a corrupção de um lado e deixa a porteira entreaberta de outro.


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