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Ainda em transição
Política monetária precisa evitar risco de subida do juro básico em médio prazo; meta de inflação deve ser mantida
DEPOIS DE amanhã o
Conselho Monetário
Nacional (CMN) se
reunirá para deliberar
a respeito da taxa de inflação para o ano de 2009 que constituirá
a meta formal a orientar a atuação do Banco Central.
O debate recente sobre o tema
tem se centrado no nível da meta. Uma corrente defende a manutenção do valor atual -limitar
a alta anual do IPCA em 2007 e
em 2008 a 4,5%, admitindo-se
taxa até dois pontos de porcentagem mais alta ou mais baixa. Outra corrente defende a redução
do seu núcleo para 4% ou menos.
A definição do nível da meta é
um aspecto relevante. Mas tão
ou mais importante -sobretudo
quando a diferença entre o nível
defendido por uma e outra corrente é estreita- é a discussão
sobre alternativas de aprimoramento do sistema.
Há muito esta Folha defende a
introdução de mudanças que
tornem a sua operação mais flexível, objetivando evitar que o
crescimento da economia e a geração de empregos fiquem sujeitos a sacrifícios desnecessários.
As modificações que caberia
encaminhar dizem respeito a aspectos como o calendário de aferição do cumprimento das metas, que poderia ser desvinculado do ano gregoriano; o horizonte de convergência da taxa de inflação rumo ao centro da meta,
que poderia ser estendido; e o índice utilizado para fixar as metas
(em diversos países o parâmetro
da política é um indicador de
preços que exclui itens mais voláteis e/ou variações de preços
temporárias ou excepcionais).
Ao longo de oito anos o sistema já acumulou credibilidade
significativa. Numa conjuntura
em que é alta a confiança na
perspectiva de cumprimento da
meta, muito dificilmente alterações do tipo citado seriam vistas
como formas casuísticas de relaxar o rigor antiinflacionário.
Outro elemento que deveria
ser levado em conta pelo CMN
são as distorções que ainda persistem no quadro macroeconômico. A taxa de juros básica ainda está em nível real duas vezes
mais alto do que o padrão global.
A dívida pública, além de ter prazo médio de vencimento ainda
curto demais, continua em proporção relevante composta por
títulos cuja rentabilidade é indexada à taxa de juros básica.
Trata-se de anomalias, herdadas do longo período de grande
instabilidade, que é preciso eliminar. Para que os credores se
animem a trocar seus títulos indexados à Selic por papéis prefixados e/ou com prazos mais longos, é preciso que tenham confiança em que a taxa de juros básica será cada vez mais baixa.
Ainda está em curso no Brasil
uma transição para taxas de juros "civilizadas". A fim de que essa almejada mudança possa ser
concluída, é necessário ter muita
cautela com a política de metas.
Uma eventual elevação da Selic,
por exemplo, prejudicaria a evolução da dívida pública rumo a
um perfil "civilizado". O sistema
de metas deveria minimizar o
risco de uma nova subida de juros no médio prazo.
A melhor alternativa, portanto, é o Conselho Monetário Nacional manter o núcleo da meta
dos próximos dois anos em 4,5%.
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