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ELIANE CANTANHÊDE
Por que não te calas?
BRASÍLIA - Ok. Já se sabe que o
presidente da República descarta a
possibilidade de tratar José Sarney
como "cidadão comum", condena o
"denuncismo", acha que os jornais
têm "uma predileção pela desgraça" e que há "coisas mais importantes para discutir". Por isso, conclama: "Não vamos fazer disso uma
causa nacional".
Cada um pensa o que quer, e a liberdade de expressão, assegurada
pela Constituição brasileira, é um
dos pilares de qualquer democracia. Mas, como o presidente da República tem enormes responsabilidades sobre cultura política, bons
modos e bons exemplos, o que o cidadão comum quer é a opinião dele
sobre a lama que jorra do Senado. O
que Lula pensa sobre:
1) 663 atos secretos que favorecem os eleitos dos eleitos e prejudicam os eleitores do país, desviando
dinheiro público para inventar cargos e pagar R$ 12.000 para motoristas que dão expediente como mordomos particulares?;
2) A transformação de um dos
Poderes da República em cabide de
emprego de famílias inteiras, desde
filhos e filhas até primas distantes e
ex-cunhadas -e em que o número
dos que entram pela janela é muito
superior aos que chegam legitimamente por concurso?
3) A descoberta de contas paralelas de quase R$ 4 milhões do Senado na Caixa Econômica Federal
sem que o distinto público que as
abastece fique sabendo?
4) A farra das "verbas indenizatórias" com dinheiro público até para
renovar banheiros faraônicos e coisas do gênero?
Afinal, cabe ao presidente da República defender aliados a qualquer
custo ou cabe a ele pregar e garantir
a moralidade pública, os cofres da
União e os interesses dos 200 milhões de brasileiros chamados a pagar a conta?
Como Lula não para de falar sobre o Senado, não vale o argumento
da "não intromissão em outro Poder". Ou bem se mete pela moralidade, ou bem faria ficando calado.
elianec@uol.com.br
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