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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula e o Antigo Regime
SÃO PAULO - Veja como é a vida:
há pouco mais de um ano, Patrus
Ananias, o ministro do Bolsa Família, ainda era cogitado como possível candidato à sucessão de Lula.
Ontem, depois de pedir a bênção à
sua mãe, como fez questão de
anunciar, disse que aceita, sim, ser
vice na chapa de Hélio Costa ao governo de Minas. O petista católico,
vinculado ao programa social mais
simbólico do governo, ajoelhou e
vai rezar pelo PMDB em seu Estado.
Ainda em Minas, Clésio Andrade, presidente do PR e da Confederação Nacional dos Transportes,
deve ficar com a cobiçada vaga de
suplente de Fernando Pimentel,
candidato ao Senado e ministro
quase certo caso Dilma Rousseff
vença. Há uma ironia: Clésio hoje já
é suplente, mas do senador Eliseu
Resende, do DEM. Cansado da fila,
decidiu comprar outro bilhete.
Vê-se, neste rápido passeio, como é fácil unir as pontas entre PT e
DEM, passando por PMDB e PR. Este é só um exemplo de como se organiza o jogo político pelo país.
O responsável pelos milagres
tem barba branca e é adorado por
quase toda a população. Mas deixe
Deus de lado. Seu nome é Lula.
Ele é o grande protagonista da
eleição e o agente catalisador de
um consórcio de poder em que tudo
cabe. No Maranhão, fez o PT apoiar
Roseana Sarney, herdeira da oligarquia mais longeva do país. Sustentando forças do atraso ou sustentada por elas, a carruagem de Dilma
carrega consigo um Antigo Regime,
a quem oferece sobrevida.
Isso, a rigor, tem sido assim desde que o PSDB se aliou ao PFL, em
1994. Como FHC gosta de dizer, petistas e tucanos disputam para saber quem conduz o atraso, do qual
dependem para governar o país.
Sim, mas, pela primeira vez, o artífice do cenário e o inventor dos
personagens não será o diretor do
espetáculo. Dilma pode se tornar
presidente, mas Deus a criou do nada. Não seria estranho se estivesse
agora, como Patrus, pedindo a bênção para apoiar algum aliado da velha ordem em nome do progresso.
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