São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2010

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Editoriais

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Atoleiro afegão

Ainda que fortes, pelos termos em que foram manifestadas, não chegam a surpreender as críticas endereçadas pelo general Stanley McChrystal a seus superiores em Washington. Reportagem da revista "Rolling Stone" registrou ataques do militar, então comandante das forças dos EUA no Afeganistão, contra o presidente Barack Obama. McChrystal disse que o líder de seu país mostrava-se "despreparado e intimidado".
Também foram alvos de comentários o vice-presidente, Joe Biden, e o assessor de Segurança Nacional, Jim Jones -um "palhaço", segundo o comandante.
O destempero, que provocou a remoção imediata do general de seu posto, reflete o difícil momento das forças norte-americanas no Afeganistão. McChrystal responsabiliza a cúpula do governo Obama pelos entraves encontrados pelo Exército para retomar áreas do país das mãos do Taleban.
Ao se ver forçado a substituir um general competente em plena campanha, o presidente dos EUA colhe os frutos do descontentamento que gerou com sua hesitação. À diferença da incursão iraquiana, não pairam dúvidas sobre a legitimidade da decisão de iniciar a guerra afegã. O governo local dava proteção, em 2001, a terroristas da Al Qaeda, responsável pelos ataques do 11 de Setembro.
Extremistas do Taleban e jihadistas internacionais se sustentam mutuamente. Se Obama perder a guerra, pode-se esperar um aumento da capacidade de ação do terrorismo.
Ainda assim, mais de três meses transcorreram, em 2009, entre o pedido de McChrystal por mais soldados e a resposta da Casa Branca. Ela veio em novembro, com a promessa de aumentar em 40% as tropas americanas. Enquanto os comandantes aguardavam, o Taleban ganhava força.
Obama teme a associação entre seu governo e o de George W. Bush -e sofre, em seu partido e na sua base eleitoral, pressões contrárias a incursões militares.
Ao mesmo tempo é acusado de fraco por opositores. Não por acaso, ao anunciar o reforço das tropas, prometeu iniciar a retirada de militares do front em meados de 2011 -algo que dificilmente acontecerá. Entre outras razões, porque Obama parece ter demorado a entender que só há um caminho no Afeganistão: aumentar o poderio militar para vencer o Taleban.


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