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Recuo calculista
Movido por razões políticas e econômicas, Obama decide acelerar retirada militar do Afeganistão; fica a incerteza sobre o legado da guerra
A decisão do presidente norte-americano, Barack Obama, de retirar 33 mil militares do Afeganistão no intervalo de um ano impõe
a conclusão de que os Estados
Unidos desistiram de uma vitória
incontestável na guerra, que completará dez anos em outubro.
O objetivo inicial da Guerra do
Afeganistão, legítimo, era capturar insurgentes e depor o regime
do Taleban, que dava proteção à
rede Al Qaeda para organizar atos
de terrorismo, como os que atingiram os EUA em 2001.
Ao contrário do Iraque, onde os
EUA se lançaram em um conflito
oportunista, ainda que para depor
um ditador cruel, a guerra afegã
recebeu desde o início amplo
apoio internacional.
Barack Obama planeja agora
encerrar as operações militares no
país até 2014; em algum momento, o presidente precisaria acelerar
a retirada das tropas. Seu anúncio, no entanto, poderá desagradar tanto defensores quanto detratores do conflito afegão.
Para uns, Obama foi cauteloso
demais e deveria retirar logo todas
as tropas, uma vez que a guerra
não será vencida. Mesmo quando
esse contingente sair, restarão 68
mil americanos no Afeganistão.
Para outros, o presidente coloca
cálculos políticos e econômicos à
frente dos militares e, assim, aceita uma capitulação ainda maior.
A principal preocupação de
Obama agora parece ser a economia. O desemprego continua no
patamar de 9%; o crescimento patina; o deficit deve atingir US$ 1,6
trilhão em 2011. Manter uma guerra impopular, que já consumiu
US$ 450 bilhões e deve custar
mais US$ 120 bilhões neste ano,
não soa como boa estratégia, ainda mais com eleições em 2012.
O momento também parece
oportuno. O homem por trás dos
ataques de 11 de Setembro, Osama
bin Laden, foi morto recentemente em uma operação supervisionada por Obama. O presidente pode
afirmar, ao menos para efeitos de
publicidade, "missão cumprida".
O anúncio de Obama serviu,
ainda, como senha para que aliados também se desvencilhassem
do atoleiro afegão. A França, que
mantém 4.000 militares no país,
anunciou redução de suas tropas.
A Alemanha, com 4.800, deve diminuir seu contingente até o final
deste ano. A Polônia, com 2.500
homens, vai na mesma direção.
A questão é saber se o mundo ficará mais seguro após a retirada.
Bin Laden foi morto, e a Al Qaeda
perdeu parte da capacidade operacional. Mas o vizinho Paquistão,
com quase cem ogivas nucleares,
continua um poço de instabilidade e abriga extremistas islâmicos
com domínio da fronteira afegã.
"Não vamos tentar fazer do Afeganistão um lugar perfeito", diz
Obama. Nem perfeito, nem muito
melhor que dez anos atrás.
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