São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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Recuo calculista

Movido por razões políticas e econômicas, Obama decide acelerar retirada militar do Afeganistão; fica a incerteza sobre o legado da guerra

A decisão do presidente norte-americano, Barack Obama, de retirar 33 mil militares do Afeganistão no intervalo de um ano impõe a conclusão de que os Estados Unidos desistiram de uma vitória incontestável na guerra, que completará dez anos em outubro.
O objetivo inicial da Guerra do Afeganistão, legítimo, era capturar insurgentes e depor o regime do Taleban, que dava proteção à rede Al Qaeda para organizar atos de terrorismo, como os que atingiram os EUA em 2001.
Ao contrário do Iraque, onde os EUA se lançaram em um conflito oportunista, ainda que para depor um ditador cruel, a guerra afegã recebeu desde o início amplo apoio internacional.
Barack Obama planeja agora encerrar as operações militares no país até 2014; em algum momento, o presidente precisaria acelerar a retirada das tropas. Seu anúncio, no entanto, poderá desagradar tanto defensores quanto detratores do conflito afegão.
Para uns, Obama foi cauteloso demais e deveria retirar logo todas as tropas, uma vez que a guerra não será vencida. Mesmo quando esse contingente sair, restarão 68 mil americanos no Afeganistão. Para outros, o presidente coloca cálculos políticos e econômicos à frente dos militares e, assim, aceita uma capitulação ainda maior.
A principal preocupação de Obama agora parece ser a economia. O desemprego continua no patamar de 9%; o crescimento patina; o deficit deve atingir US$ 1,6 trilhão em 2011. Manter uma guerra impopular, que já consumiu US$ 450 bilhões e deve custar mais US$ 120 bilhões neste ano, não soa como boa estratégia, ainda mais com eleições em 2012.
O momento também parece oportuno. O homem por trás dos ataques de 11 de Setembro, Osama bin Laden, foi morto recentemente em uma operação supervisionada por Obama. O presidente pode afirmar, ao menos para efeitos de publicidade, "missão cumprida".
O anúncio de Obama serviu, ainda, como senha para que aliados também se desvencilhassem do atoleiro afegão. A França, que mantém 4.000 militares no país, anunciou redução de suas tropas. A Alemanha, com 4.800, deve diminuir seu contingente até o final deste ano. A Polônia, com 2.500 homens, vai na mesma direção.
A questão é saber se o mundo ficará mais seguro após a retirada. Bin Laden foi morto, e a Al Qaeda perdeu parte da capacidade operacional. Mas o vizinho Paquistão, com quase cem ogivas nucleares, continua um poço de instabilidade e abriga extremistas islâmicos com domínio da fronteira afegã.
"Não vamos tentar fazer do Afeganistão um lugar perfeito", diz Obama. Nem perfeito, nem muito melhor que dez anos atrás.


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