São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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Editoriais

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Indústria sem lastro

Os primeiros anúncios da descoberta de grandes reservas de petróleo e gás na camada do pré-sal estão perto de completar cinco anos. Desde então, vem sendo confirmado o enorme potencial das jazidas, o que fortalece oportunidades para alavancar vários segmentos produtivos.
O governo Lula entusiasmou-se com a ideia. Fixou o objetivo de produzir em território nacional parcela importante da grande massa de sondas, plataformas de produção de petróleo e navios de transporte que a exploração do pré-sal demandará.
Reportagem da Folha, no entanto, traz constatação preocupante: um bom tempo já se passou e, até o momento, a revitalização da indústria naval brasileira se mostra um tanto à deriva.
Grande parte da demanda gerada pelo boom do petróleo e do gás continua a ser suprida por fornecedores externos. Tome-se o caso das plataformas. De 22 encomendadas em quatro anos, apenas três estão sendo fabricadas integralmente no Brasil. Frustração semelhante para os planos de nacionalização se verifica com sondas e navios de transporte.
A situação parece decorrer, sobretudo, de que as intenções governamentais mais uma vez não se traduziram em um plano suficientemente articulado e abrangente, capaz de dar conta de um desafio de grande proporção.
O fato é que, tendo atravessado crise severa nas décadas de 1980 e 1990, a indústria naval brasileira quase desapareceu. Enquanto isso, concorrentes externos -da Coreia, da China, de Cingapura- ganharam mercado com apoio decisivo dos respectivos governos e agora se beneficiam com a crescente demanda brasileira.
Em parte, esse movimento reflete um aspecto macroeconômico: a valorização do real, que corrói a competitividade da produção nacional, e para a qual as autoridades não têm resposta eficaz.
Evidentemente, questões setoriais também exercem seu peso. A indústria naval padece com a oferta insuficiente de componentes nacionais. Os empresários da área apontam que também é problemática a oferta de financiamento, tanto pelas limitações do volume de recursos como pelo excesso de burocracia para ter acesso a ele.
Para tirar proveito das oportunidades abertas pelo pré-sal, é preciso que o setor logre dar um salto em sua capacidade produtiva e em seu padrão tecnológico.
As políticas articuladas até o momento pelas autoridades estão muito aquém das necessidades.


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