São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Cabral, o bom amigo

SÃO PAULO - A tragédia que matou sete pessoas no helicóptero que fazia o trajeto entre Porto Seguro e Trancoso acabou trazendo à tona relações mais do que comprometedoras entre o governador do Rio e certos empresários com forte atuação no Estado. Respeite-se, sim, a dor de familiares e amigos. Mas que não se use isso como álibi para relevar o aspecto pouco ou nada republicano das amizades cabralinas. São coisas diferentes e há interesse público envolvido neste caso.
Cabral viajou do Rio à Bahia no jatinho que lhe emprestou Eike Batista. Estava com Fernando Cavendish, também empresário, que comemoraria seu aniversário no Jacumã Ocean Resort, novo paraíso de milionários em Trancoso.
A Delta Construções, de Cavendish, prosperou mais que Palocci nos últimos anos. O governo do Rio é seu maior cliente. Os contratos com a administração fluminense somam em torno de R$ 1 bilhão. Só em 2010, a empresa foi contemplada com 18 contratos, 13 deles em caráter emergencial -sem licitação.
Eike doou R$ 750 mil para a campanha de Cabral em 2010. Recebe uma série de facilidades do governo para investir no Estado. Na sua nota insolente, disse que teve "satisfação" de colocar o avião "à disposição" do governador e que é livre para selecionar suas amizades. Só falta dar ao amigo uma gargantilha com EBX gravado em brilhante.
O governador tentou ocultar que estava em Porto Seguro no momento do acidente. Mudou de versão depois -como mostrou anteontem, nesta página, Cristina Grillo.
Ninguém imaginaria Dilma viajando de favor no jatinho da Odebrecht na companhia de um banqueiro a caminho de uma festinha. É escandaloso -além de muito suspeito, ou revelador.
O Rio vive um momento feliz. A recuperação de sua autoestima, após décadas de decadência, faz bem ao Brasil. Isso não deve servir de álibi para que Cabral e seus amigos do dinheiro tratem a República como o seu resort privado.


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