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HUMANOS, NÃO ANIMAIS
Ninguém merece ser tratado como
animal, como um presidiário brasileiro, diz a Anistia Internacional na
nota em que divulgou sua pesquisa
sobre a situação de prisões no Brasil.
A Anistia faz coro a diversas manifestações, estudos e pesquisas das
universidades, de outras ONGs, de
tribunais e mesmo da Polícia Civil.
As críticas parecem ter sabor de lugar-comum, dada a frequência com
que tais estudos constatam o massacre físico e psicológico dos presos. A
tragédia dos presídios como que parece fazer parte da paisagem natural
do país, assim como o drama social.
Mas algo tem mudado. Há um programa nacional de construção de penitenciárias, para desafogar os atoleiros de vidas e as escolas de crime
que se tornaram as cadeias. Mas o
sistema penitenciário está em crise,
diz a Anistia. Porém, após duas décadas de estagnação econômica, não é
só esse sistema que está em crise.
A crise social é crônica, o Estado está exaurido e não há dinheiro bastante para nada. Há até presídios novos,
modernos, mas falta gente qualificada para geri-los. E assim os presos
continuam a fugir e a morrer.
Houve algum progresso nos direitos humanos. São Paulo criou e exportou a boa idéia das ouvidorias de
polícia. Policiais acusados de homicídio agora são julgados por júri popular, e não por pares, o que reduz a
impunidade. As leis penais melhoram aos poucos -como a das penas
alternativas-, mas faltam vontade,
pessoal e meios para cumpri-las.
Presos continuam detidos depois
de cumprirem penas; raramente elas
são relaxadas, mesmo que a lei o permita. Há juízes-corregedores de presídios, mas, como o restante da magistratura, eles estão assoberbados,
como o prova o fato de que muita vez
seu trabalho é o de apagar, e não evitar, os incêndios das comuns e mortíferas revoltas de presos.
A sociedade parece indisposta a se
indignar contra os suplícios das prisões: tortura, promiscuidade pestilenta, mutirões homicidas levados a
cabo pelos presos para reduzir a superlotação. Aterrorizada pela violência, instigada pela mídia e pelos políticos populistas autoritários, ela
pouco se importa com as cadeias.
A Anistia sugere medidas tópicas,
factíveis, para reduzir o descalabro
violento. Propõe iniciativas como dar
voz aos detidos, que raramente têm a
quem se queixar da tortura. Espera-se que as autoridades considerem
as críticas construtivas do duro relatório da Anistia. Mas é difícil apagar
a impressão de que os avanços serão
pouco significativos enquanto o Brasil se debater nesse já longuíssima
crise econômica e social.
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