|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O convidado de pedra
CLÓVIS ROSSI
Rio de Janeiro - O movimento social
(incluindo empresários) é claramente
o convidado de pedra das cúpulas que
o Rio de Janeiro hospedará a partir de
hoje, entre a União Européia e a América Latina-Caribe, numa ponta, e entre o bloco europeu e os países do Mercosul na outra.
"Os atores a quem se destinariam os
benefícios do cumprimento (das metas
propostas pelas cúpulas) não foram
envolvidos no processo nem sequer
consultados sobre a reunião, sua
agenda e suas metas", queixa-se Rafael Freire Neto, que representa os trabalhadores no FCES (Fórum Consultivo Econômico-Social) do Mercosul.
Freire Neto lembra que a tal de globalização e a necessidade de integração internacional geram "compromissos externos (que) levam ao enfraquecimento dos mecanismos de controle
da gestão pública e, portanto, do controle social sobre o Estado, base fundamental da democracia".
Traduzindo concretamente: políticas internas equivocadas podem ser
punidas por meio do voto, apeando do
cargo os responsáveis por tê-las adotado. Mas compromissos internacionais
não podem ser revogados (a não ser
em circunstâncias extremas).
Nem é possível ao eleitor do Brasil,
por exemplo, castigar com seu voto o
diretor-geral da OMC (Organização
Mundial do Comércio), hoje o foco
principal dos grandes acordos comerciais que afetam o cotidiano de milhões de pessoas.
Está na hora, pois, de esse tipo de
negociação ser previamente discutido
ao menos com as instâncias organizadas da sociedade. E esta, aliás, também precisa prestar mais atenção na
questão externa, ainda que lhe pareça
complicada demais e até esotérica.
O mundo mudou tanto que nem
sempre é mais importante o que acontece na esquina da casa de cada um,
mesmo porque até esses eventos caseiros podem ser influenciados por acordos assinados em Genebra, Washington ou outras localidades remotas.
Texto Anterior: Editorial: HUMANOS, NÃO ANIMAIS
Próximo Texto: Brasília - Carlos Eduardo Lins da Silva: Caduquice prematura Índice
|