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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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POLÍCIA NO CONGRESSO

A inabilidade que a atual direção da Câmara dos Deputados tem demonstrado para administrar as manifestações contrárias à reforma da Previdência atingiu novo patamar com o lamentável episódio, ocorrido anteontem, da convocação do Batalhão de Choque da Polícia Militar para reforçar a segurança da Casa. Autorizados pelo presidente, o petista João Paulo Cunha (SP), policiais entraram nas dependências da Câmara para dispersar funcionários públicos que ameaçavam interromper os trabalhos da comissão encarregada de analisar o texto da reforma. Um servidor foi detido.
Confrontado com o regimento interno, que permite apenas aos seguranças da Casa portar armas, João Paulo recorreu a ginástica verbal: "A Polícia Militar passou por dentro da Câmara, mas não atuou dentro da Câmara". Ele se referia ao fato de que o batalhão percorreu o interior do edifício até chegar à porta do chamado Anexo 2, onde os manifestantes estavam concentrados.
No entanto, mais do que estabelecer o exato metro quadrado em que se deu a ação, importa observar o caráter inusitado e temerário do gesto de chamar a polícia ao Congresso -e a ironia de ter sido o primeiro presidente petista da Câmara o responsável por tal excesso.
Não se trata, obviamente, de defender as práticas utilizadas pelos servidores descontentes, que rotineiramente ultrapassam os limites do exercício democrático da crítica. No dia anterior, por exemplo, eles haviam tentado invadir uma reunião de parlamentares do PT.
Espera-se da direção da Câmara comportamento a um só tempo firme e sereno. Um controle eficiente do acesso ao prédio já contribuiria para garantir o andamento dos trabalhos sem que para isso se recorra a segurança que não a interna.
Carece de sentido a tentativa, esboçada ontem por João Paulo, de culpar a imprensa, que teria, no entender do deputado, exagerado as dimensões do incidente. Estranho seria considerar normal a opção por responder a um abuso com outro maior.


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