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JOSÉ SARNEY
Tempo instável, sujeito a chuvas
Há muitas nuvens. São formações pesadas, que fazem a meteorologia ter previsão de chuvas, ventos e granizo.
No governo, há sempre momentos
assim. Não há como evitar o planeta
feroz, na conjugação de política e governar. São as leis dos ventos -que
Da Vinci já previa existirem nas grandes altitudes-, normas eternas que
envolvem complexo conjunto de leis
físicas, temperaturas e outras coisas
mais.
Seria especular muito no estudo da
meteorologia com a política? Comporta apenas comparações e hipóteses de relações estreitas. Quando as
estradas estão cheias de neve ou alagadas, casas destruídas, plantações
arrasadas, rios transbordando, enchentes gigantescas, não se trabalha,
não se produz e, se a vida normal desaparece, a política também. Mas não
é dessas coisas que se fazem os devaneios.
Se não podemos lutar contra os fenômenos físicos, podemos nos preparar para evitar seus danos. Principalmente na organização da defesa civil
e, nesta, combater grandes incêndios
com bons bombeiros.
Muitas pessoas me dizem que tenho
jeito e espírito de bombeiro. É que
sempre tive medo de incêndio, de fogo, principalmente na política, porque nessa área é difícil controlar chamas. As paixões crepitam, o calor sobe rapidamente e a razão vai embora.
Muitas vezes nós, que a toda hora lidamos com política e fogo, sentimos
necessidade de água para apagar incêndios e de proibir fósforos que os
provoquem.
Não é possível perdermos esta oportunidade de um operário no governo
-a grande conquista republicana de
incorporar todos os setores sociais
nas decisões de poder- pelo perigo
da fornalha das pressões sociais, onde
sempre a sociedade corre risco de fusão.
É estranho que as resistências ao
presidente sejam daqueles que ele liderou e a quem deu a vitória. É preciso compreender que Lula chegou ao
poder para diminuir tensões sociais e
para construir uma sociedade em que
todos tenham de ceder para que se
crie um novo tempo de justiça social.
Se os movimentos sociais acharem
que a vitória de Lula é a oportunidade
para transformá-los em movimentos
revolucionários, caem num equívoco
e, mais do que isso, numa grande tragédia, caminho certo para inevitável
fracasso.
Sem lei, não há direitos a reivindicar. Sem direitos, a lei é a da selva. A
propriedade foi construída pelo homem, para assegurar a paz: o meu e o
teu. Evitar conflito. Nocivo é o abuso
da propriedade, sua utilização anti-social. Isso não pode ser motivo de
negá-la em seus valores e fundamentos.
As invasões jamais podem ser o caminho da paz social, porque são expressões da guerra social. A violência
como instrumento de protesto é um
convite ao impasse. A Justiça nas democracias modernas é o Poder moderador, que assegura a sobrevivência
da sociedade democrática, marcada
por conflitos e pressões. Quando a
Justiça se politiza, torna-se parte, desmorona-se o edifício da ordem e abre-se o caminho para o caos.
É preciso que o país tenha bombeiros, em todas as esferas. Ninguém pode fazer uma reforma que não seja a
reforma possível. Não há motivos para pânico nem para desespero.
A meteorologia política, assim, está
indicando chuvas. Vamos esperar
que a frente -quente ou fria- desapareça, levada para os oceanos do
passado.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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