São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 2006

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SERGIO COSTA

Linhas cruzadas

RIO DE JANEIRO - Em tese, para se fazer um grampo é necessária autorização judicial. Se o alvo é objeto de alguma investigação, não há maiores dificuldades. A prova disso está no número de casos resolvidos com ajuda de escutas.
A recente Operação Cerol da PF, que prendeu dois ex-superintendentes do Rio e alguns delegados, foi quase toda baseada em escutas telefônicas e ambientais. Militares investigados por negociação com o tráfico também caíram no grampo. O PCC é monitorado o tempo todo em São Paulo, assim como aqui há gravações e mais gravações envolvendo as várias facções criminosas (Comando Vermelho,Terceiro Comando, ADA), que os jornais e telejornais reproduzem à exaustão.
De grampo em grampo, as prisões estão lotadas, escândalos são revelados, muitas reputações comprometidas. Políticos costumam ter horror de telefone. A maioria prefere pegar no braço e falar baixinho no ouvido do interlocutor.
Repórteres de polícia formam outra tribo apavorada: são misteriosos, monossilábicos, cheios de códigos e truques. Como sabem que grampos necessitam de autorização, há quem atende ao telefone e vai logo falando a data como precaução contra uma escuta ilegal.
Ninguém está livre do grampo. Mesmo você que nunca fez mal a ninguém. Uma simples ligação por engano de alguém que esteja sendo investigado basta para que o seu número fique sendo "monitorado" por alguns dias.
São tantos grampos que circulam entre policiais CDs com trechos mais pitorescos de escutas: relatos de conversas entre amantes, estrepolias de celebridades, histórias do arco da velha colhidas ao acaso no emaranhado infinito de linhas cruzadas e bisbilhotadas. Enquanto vivemos nesse imenso Big Brother, ficamos imaginando: como se resolviam os crimes antes das escutas?


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