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SERGIO COSTA
Linhas cruzadas
RIO DE JANEIRO - Em tese, para
se fazer um grampo é necessária autorização judicial. Se o alvo é objeto
de alguma investigação, não há
maiores dificuldades. A prova disso
está no número de casos resolvidos
com ajuda de escutas.
A recente Operação Cerol da PF,
que prendeu dois ex-superintendentes do Rio e alguns delegados,
foi quase toda baseada em escutas
telefônicas e ambientais. Militares
investigados por negociação com o
tráfico também caíram no grampo.
O PCC é monitorado o tempo todo
em São Paulo, assim como aqui há
gravações e mais gravações envolvendo as várias facções criminosas
(Comando Vermelho,Terceiro Comando, ADA), que os jornais e telejornais reproduzem à exaustão.
De grampo em grampo, as prisões
estão lotadas, escândalos são revelados, muitas reputações comprometidas. Políticos costumam ter
horror de telefone. A maioria prefere pegar no braço e falar baixinho
no ouvido do interlocutor.
Repórteres de polícia formam
outra tribo apavorada: são misteriosos, monossilábicos, cheios de
códigos e truques. Como sabem que
grampos necessitam de autorização, há quem atende ao telefone e
vai logo falando a data como precaução contra uma escuta ilegal.
Ninguém está livre do grampo.
Mesmo você que nunca fez mal a
ninguém. Uma simples ligação por
engano de alguém que esteja sendo
investigado basta para que o seu
número fique sendo "monitorado"
por alguns dias.
São tantos grampos que circulam
entre policiais CDs com trechos
mais pitorescos de escutas: relatos
de conversas entre amantes, estrepolias de celebridades, histórias do
arco da velha colhidas ao acaso no
emaranhado infinito de linhas cruzadas e bisbilhotadas. Enquanto vivemos nesse imenso Big Brother, ficamos imaginando: como se resolviam os crimes antes das escutas?
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