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ELIANE CANTANHÊDE
A corrupção e o corrupto
BRASÍLIA - Lula tem razão ao
atribuir os escândalos ao "acúmulo
de deformações que vêm da estrutura política do nosso país". Mas,
mesmo com essa estrutura, há três
categorias: os que não se sujam, os
que se aproveitam para financiar
suas campanhas e os que, pura e
simplesmente, roubam até dinheiro público e potencializam sua "vocação empreendedora", erguendo
patrimônios monumentais.
Com 112 parlamentares supostamente envolvidos no escândalo dos
sanguessugas -que dá náuseas-,
trata-se de uma manada sem controle. Não há uma relação de partido, não há compromisso público,
não há o mínimo pudor.
É evidente que o sistema tem de
ser reformado para fortalecer partidos e programas, em vez de mensalões e sanguessugas. Sim ao voto em
lista, à fidelidade partidária e ao fim
das emendas individuais ao Orçamento, que são a chama da corrupção. No mínimo, transformam deputados e senadores em meros vereadores ou despachantes federais.
E dá no que dá.
É, portanto, fundamental transformar a retórica eleitoral (hoje
apenas embusteira) em reformas
reais do sistema. Mas é preciso também cassar o corrupto na origem,
na inscrição de candidaturas.
Tudo isso, porém, esbarra na realidade: se deputados e senadores
são os maiores beneficiários e garantem a impunidade dos culpados,
quem irá votar as mudanças? Só
criando uma instância multidisciplinar e descontaminada, de fora,
para propor as mudanças e obter
um pacto de aprovação. Ou o Congresso vota e depois aplica, ou morre. E morre na sarjeta.
Num país com um presidencialismo tão poderoso e invasivo, o Executivo teria um papel natural de liderança nas reformas. Mas, como
candidatos, todos prometem. Como presidentes, todos se esquecem.
Aliás, como o próprio Lula.
elianec@uol.com.br
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