São Paulo, quarta-feira, 25 de julho de 2007

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O preço da crise

Adequar o setor aéreo à estrutura disponível deve ter impacto nas tarifas, mas é necessário para restaurar a segurança

OS EVENTOS ocorridos em Congonhas nesta semana intensificam a impressão de que o pandemônio no setor aéreo brasileiro é ainda pior do que se supunha. O mau tempo insuflou a insegurança e o agravamento da crise, que não tardará em repercutir sobre as tarifas.
Sob a alegação de que a pista auxiliar não apresenta condições de pouso, pilotos e companhias aéreas recusaram-se a operar no aeroporto: dos 215 vôos previstos, 146 foram cancelados na segunda. Ontem, em menor escala, o cenário se repetiu.
A Infraero, desautorizada pelos comandantes, insistia em que a pista estava em boas condições. A Anac, em contrapartida, decretou ontem a proibição na venda de bilhetes para vôos que partissem do aeroporto. Nos balcões das companhias, passageiros aglomeravam-se em busca de informações e eram recebidos com as evasivas de praxe.
Conseqüência da quebra de uma canaleta de escoamento na ocasião do acidente com o Airbus da TAM, um deslizamento de terra próximo à cabeceira da pista completou o cenário e trouxe uma imagem particularmente reveladora da inépcia que toma conta da aviação no país.
A se concretizarem as medidas anunciadas pelo presidente Lula na última sexta, Congonhas deve sofrer redução de 30% a 40% no número de vôos. Com a conseqüente diminuição na oferta de passagens, o custo para os usuários aumenta. Não há como dirimir as filas, os cancelamentos e os atrasos que se intensificaram nesta semana, alega o governo, sem um reajuste significativo nas tarifas.
Desde 2004, o tráfego aéreo doméstico cresceu cerca de 13% ao ano, com aumento substantivo da oferta de passagens a baixo custo. Mas a crise inverteu o sinal: as tentativas de modificar o atual panorama vão afetar diretamente a fatia da população beneficiada pelo crescimento.
Na estimativa aproximada de representantes das empresas aéreas, dos 20 milhões de passageiros atendidos anualmente em Congonhas, metade teria de ser absorvida por outros aeroportos de São Paulo. Cumbica e Viracopos, de acordo com dados das companhias, teriam estrutura para receber juntos no máximo 3 milhões de passageiros a mais por ano. O restante acabaria sendo excluído do sistema.
O preço das tarifas obedece aos movimentos do mercado e à competição entre as empresas. É compreensível que a redução na oferta de vôos force o reajuste. Mas é certo que os aumentos virão bem antes da liberação de recursos para aumentar a capacidade aeroportuária de São Paulo. E da contratação do contingente necessário de controladores. E da atualização de equipamentos freqüentemente sujeitos a pane.
A adequação do setor aéreo à estrutura disponível para geri-lo representa um retrocesso econômico -mas dela também depende a restauração da segurança na aviação brasileira.


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