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O preço da crise
Adequar o setor aéreo à estrutura disponível deve ter impacto nas tarifas, mas é necessário para restaurar a segurança
OS EVENTOS ocorridos
em Congonhas nesta
semana intensificam a
impressão de que o
pandemônio no setor aéreo brasileiro é ainda pior do que se supunha. O mau tempo insuflou a
insegurança e o agravamento da
crise, que não tardará em repercutir sobre as tarifas.
Sob a alegação de que a pista
auxiliar não apresenta condições
de pouso, pilotos e companhias
aéreas recusaram-se a operar no
aeroporto: dos 215 vôos previstos, 146 foram cancelados na segunda. Ontem, em menor escala,
o cenário se repetiu.
A Infraero, desautorizada pelos comandantes, insistia em que
a pista estava em boas condições.
A Anac, em contrapartida, decretou ontem a proibição na venda
de bilhetes para vôos que partissem do aeroporto. Nos balcões
das companhias, passageiros
aglomeravam-se em busca de informações e eram recebidos com
as evasivas de praxe.
Conseqüência da quebra de
uma canaleta de escoamento na
ocasião do acidente com o Airbus
da TAM, um deslizamento de
terra próximo à cabeceira da pista completou o cenário e trouxe
uma imagem particularmente
reveladora da inépcia que toma
conta da aviação no país.
A se concretizarem as medidas
anunciadas pelo presidente Lula
na última sexta, Congonhas deve
sofrer redução de 30% a 40% no
número de vôos. Com a conseqüente diminuição na oferta de
passagens, o custo para os usuários aumenta. Não há como dirimir as filas, os cancelamentos e
os atrasos que se intensificaram
nesta semana, alega o governo,
sem um reajuste significativo
nas tarifas.
Desde 2004, o tráfego aéreo
doméstico cresceu cerca de 13%
ao ano, com aumento substantivo da oferta de passagens a baixo
custo. Mas a crise inverteu o sinal: as tentativas de modificar o
atual panorama vão afetar diretamente a fatia da população beneficiada pelo crescimento.
Na estimativa aproximada de
representantes das empresas aéreas, dos 20 milhões de passageiros atendidos anualmente em
Congonhas, metade teria de ser
absorvida por outros aeroportos
de São Paulo. Cumbica e Viracopos, de acordo com dados das
companhias, teriam estrutura
para receber juntos no máximo 3
milhões de passageiros a mais
por ano. O restante acabaria sendo excluído do sistema.
O preço das tarifas obedece aos
movimentos do mercado e à
competição entre as empresas. É
compreensível que a redução na
oferta de vôos force o reajuste.
Mas é certo que os aumentos virão bem antes da liberação de recursos para aumentar a capacidade aeroportuária de São Paulo.
E da contratação do contingente
necessário de controladores. E
da atualização de equipamentos
freqüentemente sujeitos a pane.
A adequação do setor aéreo à
estrutura disponível para geri-lo
representa um retrocesso econômico -mas dela também depende a restauração da segurança na aviação brasileira.
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