São Paulo, quarta-feira, 25 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Democracia turca

QUE O PARTIDO do premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, sairia vitorioso nas eleições do último domingo, ninguém duvidava. A proporção do triunfo, entretanto, surpreendeu o próprio Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AK). Resultados ainda não-oficiais indicam que o AK ficou com 47% dos votos, 13 pontos a mais que os 34% obtidos no pleito de 2002.
A campanha da oposição bem que tentou apresentar o pleito como um embate entre o Estado laico, por ela personificado, e o islã, representado pelo AK. Era uma interpretação verossímil. Controvérsias entre o establishment secular e as massas religiosas são de fato uma questão relevante no país. Mais do que isso, a própria eleição fora antecipada porque os generais turcos haviam ameaçado com a possibilidade de intervir quando Erdogan indicou um correligionário religioso para a eleição indireta à Presidência da República.
Só que, como freqüentemente ocorre, o eleitor turco acabou dando mais atenção à economia do que à metafísica. E, no plano econômico, o AK tinha excelentes resultados a apresentar. Apanhou uma Turquia sob hiperinflação e, promovendo uma série de reformas pró-mercado, transformou-a num país que vem crescendo a 7% ao ano.
De resto, as acusações de que o AK manteria uma "agenda religiosa secreta" soaram um pouco falsas. É verdade que o partido tem origem no islamismo político. Também é verdade que a mulher de Erdogan usa o "hijab", o véu muçulmano -o que é visto com desprezo pela elite laica. Mas o partido, até por conhecer o histórico dos militares que já desferiram quatro golpes de Estado nos últimos 50 anos, em nenhum momento tentou reverter a legislação que assegura a laicidade do Estado, tão zelosamente defendida pelo establishment.
Com o resultado das urnas, as reformas econômicas sob Erdogan ganharão fôlego e a controvérsia religiosa deverá seguir sem solução definitiva.


Texto Anterior: Editoriais: O preço da crise
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Anac fuzila mortos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.