São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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VINICIUS MOTA

Saudosa inflação

SÃO PAULO - Rápido no gatilho, quando se trata de elevar os juros, o BC aumentou a carga contra a carestia. Com a Selic a 13% ao ano e subindo, o time de Henrique Meirelles mira as expectativas para a inflação de 2009, que ameaçam fugir da meta. A intenção extra-oficial é dissuadir empresários, num mercado de trabalho aquecido, de indexar salários a índices de preços.
Houve um salto mundial no preço de mercadorias básicas, o que eleva taxas ao consumidor em toda parte. Um recuo na cotação global dessas commodities -petróleo, comida, aço- seria, então, o melhor meio de debelar a inflação por aqui? Há sérias dúvidas a esse respeito.
O Brasil se beneficia da mesma conjuntura internacional que produz a inflação. Exporta alimentos e minérios e importa pouco petróleo.
A cotação dos produtos brasileiros exportados, noticiou o "Valor", é a mais alta em três décadas.
Essa confluência de fatores permite à economia brasileira continuar crescendo acima da média mundial, com taxa de inflação apenas moderada. Mas tudo seria diferente, e muito mais arriscado, se as operações especulativas que sustentam as commodities nas alturas fossem desarmadas de repente e seus preços despencassem.
Um roteiro plausível, tomando a história recente, seria: queda abrupta no valor das exportações, elevação do déficit financeiro externo, fuga de dólares. Tudo isso redundaria em inflação -só que numa inflação diferente da atual, bem mais destrutiva, transmitida pelo câmbio e associada à desorganização do setor real da economia.
A história, é claro, pode não se repetir. Uns confiam em que o Brasil entrou numa nova fase de estabilidade e crescimento. Outros apostam numa mudança de padrão nas finanças globais, com o dólar perdendo importância. A conferir.
Mas ninguém deveria descartar um cenário futuro em que a inflação de hoje deixe saudades.

vinimota@folhasp.com.br



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