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ELIANE CANTANHÊDE
Só para complicar
BRASÍLIA - Um monte de gente
se deu mal, justa ou injustamente,
com o inquérito do delegado Protógenes. Mas uma coisa é certa: a Abin
(Agência Brasileira de Inteligência)
se deu foi bem.
Na apuração que deveria ser sobre Daniel Dantas, Naji Nahas e
Celso Pitta, quantos e quantas acabaram caindo no arrastão de grampos em telefones fixos, celulares, e-mails, MSN, até Skype?
A esta altura, a Abin e a banda de
Protógenes na PF têm um vasto
dossiê, quer dizer, banco de dados,
sobre tudo e todos. Pequenino
exemplo: até detalhes da estratégia
de defesa do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh para o italiano Cesare Battisti, sujeito a deportação.
Fica até engraçada a discussão
sobre a inviolabilidade dos escritórios de advocacia. Na prática, eles já
são grampeados há bastante tempo.
Qual a diferença de serem ou não
investigados formalmente?
O interessante é o elo entre chefiado e chefe. O chefiado é Protógenes, da PF. O seu chefe de fato é o da
Abin, Paulo Lacerda, ex-PF, talvez o
policial mais prestigiado na ativa
hoje no país. Protógenes passa por
cima do atual diretor da PF, Luiz
Fernando Corrêa (que abandonou
o tiroteio para tirar férias), assim
como Lacerda passa por cima do general Jorge Armando Félix, ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Até por isso, há quem diga
que Protógenes e Lacerda só fazem
o que querem. E a Abin e a PF estão
fora de controle.
O ideal é que as energias se concentrem no inquérito e em Daniel
Dantas, mas ocorre o oposto: eles
passam, e as outras informações ficam. E ficam, para o bem ou para o
mal, nas mãos da Abin e na PF de
Lacerda e Protógenes. Muita gente,
em especial no governo, está com
várias pulgas atrás da orelha.
Não custa lembrar o general Golbery do Couto e Silva, muitos anos e
muitos sustos depois de criar o SNI
(Serviço Nacional de Informações):
"Criei um monstro". A Abin é herdeira direta do "monstro".
elianec@uol.com.br
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