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CLÓVIS ROSSI
Moralidade, Hitler e paisagens
SÃO PAULO - Há momentos em que gostaria de ser de fato amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como ele me classificou em entrevista à revista "Piauí". Não, presidente, não é para pedir emprego que estou velho demais para mudar de lado no balcão da vida.
É que amigo, ao menos do meu
ponto de vista, é quem diz as verdades, as agradáveis e as desagradáveis. Desconfio que, no entorno de
Lula, ou falta coragem para dizer
verdades desagradáveis ou o presidente não as ouve. Só assim se explica a catarata de bobagens em que
se especializou.
A mais recente delas é esta: "Uma
coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir
um emprego, outra coisa é relação
de influências, outra coisa é o
lobby". Pior: dito assim como se fosse a mais fantástica descoberta da
mente humana desde que Moisés
exibiu as tábuas da lei.
Perdão, presidente, mas é ridículo, muito ridículo. Até minha netinha Alice, de quatro meses, é capaz
de produzir uma frase com obviedades menos galopantes.
Está na hora de Lula entender
que está saindo do palanque para
entrar na história. Por enquanto, a
catarata de bobagens passa incólume porque a popularidade continua
elevada e a maior parte dos que
conferem a Lula os índices de aprovação conhecidos não liga a mínima
para frases tolas.
Mas os livros de história podem
não ser tão condescendentes. Aliás,
nem todos os que gostam do governo Lula o são, a julgar pelo que escreve Raphael Portella, professor
aposentado de universidades públicas: "No geral, aprecio o governo
Lula, mas no aspecto moral, de defesa da honestidade, dos princípios
republicanos, fico do outro lado".
Acrescenta uma frase mortal: "A
biografia de Hitler não é melhor
porque ele pintava paisagens".
Cuidado, pois, amigo Lula, com as
paisagens que pinta.
crossi@uol.com.br
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