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IGOR GIELOW
O tamanho do crime
BRASÍLIA - Começa a parecer irresponsabilidade o tudo ou nada do
presidente Lula para salvar José
Sarney da crise que afogou o Senado. Mas o dano maior da tática é
menos comezinho do que parece à
primeira vista.
Existe lógica política, naturalmente, na defesa feita por Lula.
Manter o PMDB na chefia da Casa
com um aliado confiável é vital para
os planos de um feliz 2010 para a
candidatura governista hoje personificada em Dilma Rousseff.
Por esse projeto, para Lula vale
tudo. De incluir a volta de Cristo no
PAC a empurrar uma candidatura
alienígena como a de Ciro Gomes
goela abaixo do PT paulista.
Mas a questão é, como o presidente jocosamente colocou, o tamanho do crime. Qual é o limite da
insensibilidade do nariz lulista às
emanações do esquema que está
sustentado?
É aqui que passamos do planejamento visando a sucessão para os
efeitos de longo prazo na psique do
país. Eles dificilmente são aferíveis
agora, quando tudo lembra apenas
um jogo de xadrez disputado com a
sutileza de uma partida de rúgbi.
A essa altura do campeonato, dá
uma preguiça danada criticar as
sandices verbais do presidente, a
vontade é qualificá-las como chistes e só. Mas ele se superou recentemente. Na sua defesa estridente de
Sarney, logrou criar uma variante
por assim dizer ética do "estupra,
mas não mata" de Paulo Maluf.
Essa loquacidade toda é amparada na virtual inimputabilidade que
a enorme aprovação popular lhe
confere. Do alto dos índices de simpatia ao governo, inegáveis e com
seus méritos, Lula comanda um
triste espetáculo de diminuição do
papel da Justiça, de desprezo ao Legislativo e de elegia a uma brasileiríssima malandrice.
É essa liquefação moral e institucional que cobrará um preço mais à
frente. Nefasto é o adjetivo mais leve que me vem à cabeça para qualificar esse efeito.
igor.gielow@uol.com.br
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