|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Vergonha pouca é bobagem
SÃO PAULO - A América Latina é a
região mais desigual do mundo. O
Brasil é o 9º colocado nesse desgraçado torneio da desigualdade, revela o Índice de Desenvolvimento
Humano ajustado para a desigualdade, novo indicador do Pnud (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento).
Já seria motivo suficiente para
sentir vergonha, mas o relatório
oculta o pior: o tal índice de Gini,
usado para medir a desigualdade,
abarca apenas as diferenças entre
salários, que, de fato, vêm caindo
no Brasil nos últimos anos.
Não é preciso ter PhD em Harvard para saber que a desigualdade
mais obscena não é entre assalariados, mas entre renda do capital e
renda do trabalho.
Claudio Dedecca, professor do
Instituto de Economia da Unicamp,
chegou a apontar um eventual aumento nessa desigualdade, a partir
da informação de que, "nas pesquisas que apontam queda da desigualdade, só entram os ganhos salariais e com a rede de proteção social, como o Bolsa Família e a aposentadoria".
"Tais números equivalem apenas a 40% do PIB, já que os pesquisadores não têm acesso à renda
com ganho de capital das classes A
e B".
Dois dados dão razão a Dedecca:
estudo de três agências da ONU
mostraram que "juros, aluguéis e
lucros foram os itens da renda brasileira que mais cresceram desde a
última década, superando o rendimento dos trabalhadores".
Dado número dois: a transferência de renda para 12,6 milhões de
famílias pobres custa anualmente
R$ 13,1 bilhões. Já a transferência
de renda para os mais ricos, na forma de juros pelos títulos públicos,
foi, no ano passado, de R$ 380 bilhões. Ou seja, vai 30 vezes mais dinheiro público para um punhado
de famílias (quantas? 2 milhões, 3
milhões talvez) do que para 12,6 milhões de pobres.
Mesmo assim, faz-se ensurdecedor silêncio a respeito.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: À espera da TV
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Zero a zero Índice
|