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ALÉM DO CURTO PRAZO
A redução dos juros na semana passada surpreendeu boa
parte do mercado, que já se condicionara e passara a apostar em um gradualismo ainda mais conservador da
política monetária.
A redução acima do esperado foi
em geral bem recebida. É mais uma
demonstração de que as opiniões de
parte dos analistas financeiros refletem, muitas vezes, mais o hábito e os
interesses de suas tesourarias do que
análises objetivas e independentes.
Abandonado o consenso, ainda
não há opinião consolidada sobre os
desdobramentos da medida. Parte
dos agentes econômicos acredita
que a decisão, embora correta, foi
inócua. A tal ponto chegou a recessão que, considerada a queda na inflação, o alívio financeiro seria ainda
insuficiente. De fato, uma taxa básica
de 22% ao ano -para não mencionar as que são cobradas de empresas
e consumidores no mercado- continua fazendo do Brasil um campeão
do arrocho monetário.
A depender, no entanto, de novas
quedas e do ritmo em que ocorrerão
pode-se prever algum alívio para a
economia. Resta saber se o reaquecimento daria impulso ao consumo,
exigindo novos investimentos.
Se nos próximos meses se verificar
uma expansão apenas do consumo,
ela será de curto fôlego. Sem investimentos, a capacidade produtiva atual
permanecerá limitada, e a recuperação será abortada por pressões inflacionárias ou por aumento das importações. Para que a economia ganhe fôlego além do curto prazo, são
necessárias medidas mais profundas
e de maior alcance.
Um dos pontos fundamentais para
uma eventual reorientação da política econômica é a provável renegociação do acordo com o FMI. A renovação parece inevitável para um governo que não tem conseguido ampliar
reservas, o que reduziria a dependência externa. Ela será uma oportunidade rara para alinhar os parâmetros de
inflação, juros e câmbio a um projeto
que renove a esperança de desenvolvimento econômico do país.
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