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GRAVE SUSPEITA
Aos poucos vai ganhando corpo a hipótese de que as chacinas de mendigos em São Paulo foram cometidas por grupos racistas.
Por enquanto essa é uma mera conjectura, mas que se destaca de outras
possibilidades devido a alguns indícios ainda circunstanciais e, principalmente, pela natureza torpe do crime, que não parece obedecer a nenhum princípio de racionalidade.
Embora ainda seja cedo para descartar as hipóteses concorrentes
-disputa entre grupos de mendigos, dívidas com traficantes e campanha de "limpeza" promovida por
comerciantes-, a violência gratuita
das agressões, na qual foram utilizados instrumentos contundentes e
não as mais tradicionais armas de fogo, parece mais compatível com um
crime de intolerância.
É claro que ainda restam muitas
dúvidas. Historicamente, os grupos
racistas que atuam no país, conhecidos como "carecas", "skinheads" e
várias outras denominações, têm
produzido vítimas entre negros, homossexuais e nordestinos, e não entre moradores de rua. Tampouco há
precedentes de que essas agremiações tenham promovido chacinas.
Os crimes por elas perpetrados pareciam-se mais com delitos de ocasião,
cometidos sem maior organização.
A confirmar-se o caráter racial da
agressão, a sociedade estará diante
de uma situação ainda mais grave.
Encontrar e punir os responsáveis
pelas mortes é de toda maneira um
imperativo. Mas, se a motivação para
os assassinatos foi o ódio aos que
são diferentes, a responsabilidade
passa a ser muito maior. Esse já não
seria um crime ordinário, em que os
autores visam a uma vantagem material ou buscam um acerto de contas,
mas, sim, uma ação que desestabiliza a premissa mesma da vida em sociedade, que é a aceitação do outro.
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