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Conter os gastos
Preocupa expansão de despesas federais acima da evolução da receita; governo precisa reduzir gastos urgentemente
O
SETOR público continua a cumprir as metas de superávit fiscal,
mas há sinais preocupantes de que as despesas do governo federal crescem mais rapidamente do que as receitas.
União, Estados, municípios e
empresas estatais, considerados
em conjunto, apresentaram em
julho um superávit entre receitas e despesas, sem considerar os
juros da dívida pública, de R$ 5,6
bilhões -praticamente a metade
daquele registrado no mês anterior (R$ 10,4 bilhões).
Com isso, no período de 12 meses encerrado em julho, o saldo
das contas públicas recuou para
R$ 87,5 bilhões, ou 4,33% do PIB.
Isso mantém o desempenho do
governo acima da meta anual de
4,25% do PIB, porém ainda distante do superávit primário requerido para cobrir as despesas
com juros no período.
O desempenho do governo federal, em particular, é preocupante. De janeiro a julho, as suas
despesas cresceram 14,8%, enquanto as suas receitas tiveram
um aumento de 11,1%.
No acumulado do ano, o superávit do governo federal chegou
a R$ 41,4 bilhões, ou 3,55% do
PIB -números bem mais baixos
do que os registrados nos sete
primeiros meses de 2005.
É verdade que, devido a restrições legais, em anos de eleição
presidencial o governo federal
procura antecipar despesas, o
que conduz a um padrão de distribuição dos gastos ao longo dos
meses distinto daquele característico de anos não-eleitorais
-em que tradicionalmente
ocorre uma concentração de
despesas no final do período.
Assim, se em anos não-eleitorais costuma-se assistir a uma
forte deterioração do resultado
primário do governo federal nos
meses finais do ano, é possível
que em 2006 esse movimento
não seja verificado em sua intensidade habitual. Significa dizer
que a meta de encerrar o ano
com um saldo de ao menos
4,25% do PIB não está, a princípio, tão ameaçada quanto os números inicialmente sugerem.
Não obstante, é importante
alertar para o fato de que o aumento das despesas federais em
ritmo superior ao das receitas
não é um processo sustentável
no médio prazo.
O peso desse alerta aumenta
ao se levar em conta que parte
considerável do ajuste das contas públicas brasileiras tem sido
realizada mediante a elevação da
carga tributária. Dados divulgados ontem pela Receita Federal
revelam que em 2005 o peso dos
impostos voltou a aumentar de
modo significativo, chegando a
assustadores 37,4% do PIB.
É mais do que evidente que,
para poder de fato aliviar a carga
de tributos, o governo precisa reduzir as suas despesas. Não é, no
entanto, o que se verifica. Conveniências puramente eleitoreiras estão adiando esse ajuste necessário. Mas ele provavelmente
virá já a partir do ano que vem,
independentemente de quem
vença o pleito. E então ficará explicitado o tamanho do embuste
contido nas "bondades" concedidas -e nas promessas de mais
"bondades" no futuro- que dão
o tom da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.
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