|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Prisões lotadas
Após destacar-se na construção de presídios, Estado de São Paulo vê déficit voltar à média do país; faltam 55 mil vagas
OS AVANÇOS obtidos pelo
governo do Estado de
São Paulo na segurança pública parecem caminhar para um esgotamento.
Além do repique recente na taxa
de homicídios, após vários anos
em queda, a superpopulação carcerária não para de crescer. No
final de 2006 o déficit era de
44%, passou a 50% em meados
do ano passado e hoje está em
58%, na média nacional. Faltam
55 mil vagas no Estado, cerca de
um terço do déficit total no país.
É provável que a situação se
agrave, se a polícia paulista mantiver o ritmo de mais de 100 mil
prisões efetuadas em 2008. Os
presídios construídos na última
década tiveram o efeito de esvaziar carceragens lotadas de distritos policiais, um descalabro
que ameaça agora os CDPs (centros de detenção provisória), onde se concentra o excesso.
O que deveria ser uma prisão
para aqueles que aguardam julgamento se transforma numa
penitenciária improvisada. Nesses depósitos de presos sem instalações adequadas para cumprimento de pena, como locais de
estudo e trabalho, por vezes faltam até mesmo colchões.
Segundo o governo estadual,
houve só três rebeliões desde
2007 em suas 158 prisões. Mas
cabe lembrar que, um ano antes,
uma sequência de graves motins
e ataques contra autoridades, articulados dentro e fora dos presídios, levou pânico à população.
A Secretaria de Administração
Penitenciária avalia que o grosso
do déficit será sanado com a
abertura, até 2011, de 39,5 mil vagas em 49 novas unidades, cinco
das quais estão em construção.
Há uma licitação prevista para
setembro, para tirar do papel 26
prisões cujos terrenos já foram
declarados de utilidade pública.
É duvidoso que todas as vagas
estejam efetivamente disponíveis no prazo de dois anos. Desapropriações e licenças ambientais constituem fontes notórias
de adiamentos, quando levadas à
Justiça. Em várias cidades eleitas para receber penitenciárias,
além disso, organiza-se resistência contra as unidades.
O governo conta ainda com
mutirões judiciais e maior aplicação de penas alternativas -como prestação de serviços- para
desafogar as prisões. Medidas
oportunas e necessárias, mas
com efeito limitado.
É um contrassenso prático e
uma ofensa ao direito manter
encarcerados detentos que já tenham cumprido a pena, ou de
baixa periculosidade. Esse barril
de pólvora só será esvaziado com
a modernização das varas de execução penal e o reforço da assessoria gratuita prestada pela Defensoria Pública.
Próximo Texto: Editoriais: Encruzilhada afegã
Índice
|