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MARCOS NOBRE
A volta do militarismo
NÃO FOSSE por Janio de
Freitas e José Meirelles
Passos, nem sequer haveria
discussão pública sobre a aquisição
de submarinos da França ao preço
de 6,8 bilhões. Apesar da oscilação das explicações e da visível má
vontade do Ministério da Defesa
em prestar contas da decisão,
o fato é que as justificativas
apareceram.
Essa é uma discussão que precisa ir ainda mais longe. Porque uma
escalada militarista está em curso.
Não é casual que o contrato com a
França vá ser assinado no próximo
dia 7 de setembro. Não é casual que
o Brasil aposte no fortalecimento
da Unasul e, principalmente, em
uma estratégia comum de defesa
dos países sul-americanos.
Existe hoje uma ampla aliança
de antiamericanismo e nacionalismo como talvez só se tenha visto
nos idos de 1960. Tudo indica que
as Forças Armadas conseguiram
fincar no coração do sistema político a sua duradoura convicção: a
da necessidade de dar ao Brasil um
poderio bélico que lhe garanta
uma incontestável posição de
hegemonia militar na América
do Sul.
Sempre quiseram uma indústria
bélica nacional forte, embora não
tenham conseguido isso nem em
20 anos de ditadura militar. Os desenvolvimentistas fecham com a
ideia. O Itamaraty quer de qualquer maneira um assento no Conselho de Segurança da ONU.
A contrapartida institucional interna desse projeto está na nova
Estratégia Nacional de Defesa, em
exame no Congresso. Segundo a
proposta, Marinha e Aeronáutica
passarão a ter, em casos específicos, poderes de polícia. Mais significativo ainda, cria-se no Ministério da Defesa uma nova secretaria
dedicada exclusivamente à compra
de armamentos.
Nesse projeto de longo prazo, os
recursos das jazidas de petróleo
acabarão servindo para aumentar
de maneira espetacular o orçamento militar. O próprio Lula já
disse que parte do fundo que virá
do pré-sal deve ir para a Marinha.
Se essa velha aliança tiver continuidade nos próximos governos,
os problemas não vão ser poucos.
Em relação ao passado, esse acordão vai brindar o aniversário de 30
anos da Lei de Anistia com o enterro definitivo das atrocidades da ditadura militar, de que a encenação
patética da busca de corpos de
guerrilheiros no Araguaia é apenas
o começo.
No presente, ela significa, por
exemplo, a infâmia de o Brasil se
recusar a assinar o tratado contra
bombas de fragmentação.
No futuro, teremos uma América Latina pobre e instável diante
de uma corrida armamentista sem
precedentes, que irá consumir recursos preciosos que deveriam
ser destinados a combater suas
desigualdades.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
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