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TURBULÊNCIA
Ontem o dólar chegou à cotação recorde ante o real pelo
segundo dia seguido e acumulou alta
de 11% em apenas dois dias. O salto
alimenta um nervosismo que ameaça se tornar progressivo.
Novamente uma conjugação de fatores externos e internos provocou a
desvalorização da moeda brasileira.
A iminência de um conflito armado
no Iraque pressionou o preço do petróleo, e as Bolsas dos países ricos tiveram outro dia negativo. A Bolsa de
Nova York recuou para o nível mais
baixo dos últimos quatro anos. As
perdas produzidas por essas quedas
realimentam a aversão ao risco. Pior
para os países que precisam atrair capitais de fora, como o Brasil.
Internamente, a incerteza suscitada
pela corrida presidencial se exacerba.
Os temores de parcela dos investidores com a possibilidade de vitória de
Luiz Inácio Lula da Silva criam um
clima no qual notícias positivas
-como a melhora rápida do superávit comercial- são recebidas sem a
devida atenção.
Nesse ambiente, é sério o risco de
que alguns números sejam mal-interpretados. O fato de que ontem o
valor do real, medido em dólares, se
tornou inferior ao do peso argentino
pode dar a falsa impressão de que a
economia brasileira está mais debilitada que a argentina. Mas basta uma
comparação para desfazer esse equívoco: em 2002, a alta do dólar sobre o
real é de 63%; nesse mesmo período,
a moeda americana -que valia um
peso até o começo do ano- se valorizou 270% sobre a argentina.
Nem por isso a escalada do dólar
deixa de ser preocupante. A escalada
anterior foi interrompida pelo fechamento do acordo com o FMI, no início de agosto. Embora os efeitos práticos do empréstimo do FMI estejam
aí, reforçando a capacidade do país
de pagar seus compromissos externos, seu efeito calmante já se dilui.
Seria precipitado afirmar que existe
uma tendência de deterioração progressiva. Mas, em contraste com os
dias que precederam o anúncio do
acordo com o FMI, não há consenso
sobre qual fato novo poderia interromper a espiral de pessimismo.
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