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Sismo sob o PT
Crise do dossiê relançou a sorte da disputa presidencial, que entra na sua semana decisiva sob o signo da incerteza
A ECONOMIA , quase sempre em crise, foi o principal elemento a conferir dramaticidade aos
pleitos que, desde 1989, elegeram presidentes da República no
Brasil. A ironia é que agora,
quando os parâmetros financeiros acusam inusitada calmaria,
os desmandos da política é que
são lançados ao proscênio nos
últimos dias de campanha antes
do primeiro turno.
A menos de 150 horas da abertura da votação, paira no ar a incerteza. Dissipou-se a monotonia de um cenário que, há dez
dias, apontava para uma vitória
tranqüila de Luiz Inácio Lula da
Silva no primeiro turno. Na madrugada de sexta, 15 de setembro, dois petistas foram presos
com R$ 1,7 milhão em dinheiro
vivo. Negociariam um dossiê
contra adversários; acabaram relançando a sorte da eleição.
Em campo sete dias após o flagrante da Polícia Federal, o Datafolha apurou ligeira oscilação
negativa, dentro da margem de
erro, na intenção de voto de Lula.
Avançou um ponto o bloco de
seus adversários. Oito pontos
percentuais separam o presidente dos concorrentes. Na análise
estatística, tudo igual: o petista
teria sido reconduzido ao Planalto, em turno único, se as eleições
houvessem ocorrido na sexta-feira passada.
Sem a crise do dossiê, seriam
mesmo favas contadas a reeleição de Lula no domingo que vem.
Mas o solo em que caminha a
candidatura petista está tremendo -e não vai parar de chacoalhar nos próximos seis dias.
Esperam-se novidades acerca
do mais grave elemento ainda incógnito na operação organizada
por pessoas na cúpula da campanha presidencial, companheiros
de partido e sindicalismo de Lula. Trata-se de saber como foi financiada a compra das informações, de onde veio o dinheiro.
Se cinco dias de intensa exposição do caso nos meios de comunicação e de exploração eleitoral pela campanha de Geraldo
Alckmin não bastaram para mudar o quadro no Datafolha, nada
garante que o comportamento
do eleitorado permaneça o mesmo de hoje até domingo.
O desenrolar do escândalo, a
manutenção do caso em destaque no noticiário e a intensificação da estratégia oposicionista
até quinta-feira -último dia de
propaganda eleitoral- ainda podem alterar esse quadro o suficiente para levar a disputa presidencial para o segundo turno.
Basta que as intenções de voto de
Lula caiam quatro pontos percentuais e que estes sejam transferidos para seus adversários.
É alto (71%) o índice dos eleitores que tomaram conhecimento
dos fatos básicos do escândalo,
mas ele ainda é razoavelmente
menor (61%) no estrato mais fiel
a Lula -pessoas com renda familiar mensal até R$ 700, que perfazem metade do eleitorado. São
eles os responsáveis pela impressionante resistência da candidatura Lula a uma sucessão igualmente impressionante de escândalos na administração petista.
Essa fidelidade, calcada, entre
outros fatores, em melhorias efetivas -embora insustentáveis
nos termos em que evoluíram-
na condição de vida, vai passar
por seis dias decisivos de teste.
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