São Paulo, terça-feira, 25 de setembro de 2007

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Editoriais

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Pouco além da euforia

Contas externas do Brasil se mantêm favoráveis, mas ações para tirar proveito permanente da bonança são tímidas

A CONTA corrente -que registra todo o fluxo de bens e serviços com o exterior- apresentou superávit de US$ 5 bilhões (0,72% do PIB) de janeiro a agosto. Mais expressivo foi o saldo da conta financeira (transações de capitais): as entradas superaram as saídas em US$ 68,6 bilhões.
A grande vedete das trocas financeiras com o exterior voltou a ser a entrada do chamado investimento estrangeiro direto. Trata-se do envio de recursos para ser aplicados no setor produtivo. Estima-se que 2007 se encerre com um saldo próximo do recorde do ano 2000, que foi de US$ 32,8 bilhões. Multinacionais ampliam a capacidade produtiva no Brasil diante da expectativa de manutenção do crescimento doméstico.
A turbulência nos mercados globais, por seu turno, ainda não se mostrou capaz de inverter o sinal do fluxo de aplicações financeiras que buscam no Brasil ganhos mais altos. Essa entrada maciça de dinheiro -somada ao saldo comercial- permitiu ao Banco Central adquirir, de janeiro a agosto, US$ 75 bilhões em moeda estrangeira. As reservas internacionais atingiram US$ 161 bilhões e superaram em valor a dívida externa de longo prazo cerca de (US$ 150,4 bilhões).
Se as contas externas exibem números confortáveis, o país não deve deixar-se levar pelo excesso de otimismo que a publicação desses dados propicia. O desafio é manter a dinâmica positiva entre superávit comercial, expansão do crédito doméstico e alta do investimento e da produtividade -um círculo virtuoso entre crescimento econômico, acumulação de reservas e baixo endividamento externo.
Tomado pela euforia, o governo federal vai se esquecendo de controlar as despesas públicas correntes -os gastos de manutenção da máquina estatal, que têm asfixiado seja o investimento público seja a expansão da capacidade produtiva no setor privado e do consumo, por conta da escalada tributária. Se estivesse comprometido com a sustentabilidade do crescimento, a administração Lula associaria uma diminuição paulatina na alíquota da CPMF com a aprovação do dispositivo que limita o crescimento da folha de pagamentos no setor público federal.
O controle das despesas federais seria um estímulo a mais para o Banco Central continuar reduzindo a taxa Selic. O Brasil destoa das economias chamadas emergentes por sustentar taxas de juros, encargos da dívida pública e carga tributária muito acima da média. Não é por acaso que o crescimento do PIB brasileiro permanece abaixo do registrado no conjunto dessas nações.
Euforias financeiras vêm e vão. Poucos países conseguem tirar proveito permanente delas.


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