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Editoriais
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Arrastão municipal
CEGOS E surdos diante do
clamor que se levanta contra os desmandos de políticos, as mesas diretoras da Câmara e do Senado promulgaram a
toque de caixa a emenda constitucional que agrega 7.709 vagas
de vereador às 51.748 existentes
no país. É o milagre da multiplicação dos cabides de emprego
para cabos eleitorais, às vésperas
de 2010.
Num típico jogo de cena, incluiu-se na emenda dispositivo
que diminui os gastos dos legislativos municipais. Acredite quem
quiser, ou puder, que a ampliação de cargos se fará sem acréscimo de despesa. A desfaçatez,
contudo, não termina aí.
Acrescentando arrogância à irresponsabilidade, os congressistas pretendem que a medida entre de imediato em vigor. Suplentes, derrotados no pleito de
2008, tomariam posse como vereadores, por simples canetada.
É o que defende o deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), relator da PEC na Câmara.
Não admira que hordas de suplentes tenham preenchido as
galerias do Congresso e comemorado a aprovação e a promulgação da emenda empreguista.
Foram cenas explícitas de clientelismo, em que beneficiários do
favor não foram os próprios eleitores, mas o baixo clero da política local. Mão de obra gratuita
-quer dizer, paga pelo contribuinte- para avançar a propaganda eleitoral dos provedores.
A pretensão da posse imediata
é, obviamente, um disparate.
Dois ministros do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes
-seu presidente- e Carlos Ayres Britto -que também preside
o Tribunal Superior Eleitoral-
já disseram que o novo contingente de edis só deveria tomar
posse após a eleição de 2012.
Felizmente, os vereadores biônicos enfrentam ainda a resistência daqueles que já consideram seus pares. Os atuais vereadores, alarmados com o potencial e repentino acréscimo de cotistas no butim, alegam que os novos cargos não são automáticos e dependem de atos formais
das legislaturas locais.
Ainda que pelos mesmos e errados motivos, talvez o arrastão
dos suplentes encontre aí, enfim,
a barreira intransponível.
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