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CLÓVIS ROSSI
G20 e Honduras, a ironia
PITTSBURGH - Escrevendo textos no lobby do Hotel Sheraton, em
que Luiz Inácio Lula da Silva está
hospedado em Pittsburgh, sou
agradavelmente interrompido por
Gilberto Scofield, o competente
correspondente de "O Globo" em
Washington:
"Cara, Honduras conseguiu
eclipsar completamente o G20 nos
jornais brasileiros. Só recebo cobranças sobre Honduras".
Tem toda a razão, Gilberto. O que
não deixa de ser uma ironia para a
diplomacia brasileira: no G20, ela
obteve um êxito, na forma de entronização do grupo, de que o Brasil é
membro destacado, como uma espécie de fórum permanente de discussão de políticas econômicas, no
lugar do G8, de que o Brasil é apenas
um apêndice convidado.
Em Honduras, ao contrário, entalou-se em uma daquelas bizarras
situações típicas do realismo mágico latino-americano.
Digo ironia porque não foi o governo brasileiro que criou o problema, por mais que as teorias conspiratórias insistam em que é impossível que Manuel Zelaya tivesse se
apresentado na embaixada em Tegucigalpa sem combinar nada com
os brasileiros.
Celso Amorim, primeiro, e Marco
Aurélio Garcia, depois, negam enfaticamente que tenha sido assim. Só
pode chamá-los de mentirosos
quem tiver informações que provem o contrário.
Eu não tenho e, por isso, atenho-me ao texto de Janio de Freitas de
ontem sobre o que é realmente importante na questão.
O Brasil fez o que tinha que fazer.
Marco Aurélio dá até um elemento
pessoal para justificar o abrigo a Zelaya: "Eu também, quando estava
exilado no Chile, bati à porta de
uma embaixada [a do Panamá] e ela
se abriu".
O problema é que o governo golpista hondurenho peitou o Brasil.
Deve ser duro ser chamado de "o
cara" por Obama e desafiado por
Roberto Micheletti.
crossi@uol.com.br
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