São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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CLÓVIS ROSSI

G20 e Honduras, a ironia

PITTSBURGH - Escrevendo textos no lobby do Hotel Sheraton, em que Luiz Inácio Lula da Silva está hospedado em Pittsburgh, sou agradavelmente interrompido por Gilberto Scofield, o competente correspondente de "O Globo" em Washington:
"Cara, Honduras conseguiu eclipsar completamente o G20 nos jornais brasileiros. Só recebo cobranças sobre Honduras".
Tem toda a razão, Gilberto. O que não deixa de ser uma ironia para a diplomacia brasileira: no G20, ela obteve um êxito, na forma de entronização do grupo, de que o Brasil é membro destacado, como uma espécie de fórum permanente de discussão de políticas econômicas, no lugar do G8, de que o Brasil é apenas um apêndice convidado.
Em Honduras, ao contrário, entalou-se em uma daquelas bizarras situações típicas do realismo mágico latino-americano.
Digo ironia porque não foi o governo brasileiro que criou o problema, por mais que as teorias conspiratórias insistam em que é impossível que Manuel Zelaya tivesse se apresentado na embaixada em Tegucigalpa sem combinar nada com os brasileiros.
Celso Amorim, primeiro, e Marco Aurélio Garcia, depois, negam enfaticamente que tenha sido assim. Só pode chamá-los de mentirosos quem tiver informações que provem o contrário.
Eu não tenho e, por isso, atenho-me ao texto de Janio de Freitas de ontem sobre o que é realmente importante na questão. O Brasil fez o que tinha que fazer.
Marco Aurélio dá até um elemento pessoal para justificar o abrigo a Zelaya: "Eu também, quando estava exilado no Chile, bati à porta de uma embaixada [a do Panamá] e ela se abriu".
O problema é que o governo golpista hondurenho peitou o Brasil. Deve ser duro ser chamado de "o cara" por Obama e desafiado por Roberto Micheletti.

crossi@uol.com.br


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