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ELIANE CANTANHÊDE
O azar e o porquê
BRASÍLIA - A queda de dois aviões
Rafale franceses foi provavelmente
como a maioria dos acidentes: descuido humano e um baita azar. É
improvável que dois aviões da mesma marca, da mesma Marinha, do
mesmo porta-aviões tenham sofrido panes separadamente na mesma
hora e caído. Ou seja: não é crível
que foi falha técnica e que, portanto, os aviões são ruins.
Mas a queda esquenta a discussão
sobre o programa FX-2 (de renovação da frota da FAB), pois a aparente decisão de Lula a favor dos Rafale
tem muito a ver com a indicação de
José Antônio Dias Toffoli para o
Supremo. Um ato de voluntarismo
explícito, sem a devida correspondência técnica e de argumentos.
Em outras palavras: tanto os Rafale quanto Toffoli parecem carregar uma lista de desvantagens, sem
que as vantagens fiquem claras e
consistentes. Sabe-se por que não.
Não se entende por que sim.
A fábrica Dassault anda mal das
pernas, como relata a imprensa
francesa. Os Rafale só foram vendidos para as Forças Armadas da própria França, enquanto os F-18 da
Boeing (EUA) rodam o mundo. E o
preço e a manutenção são bem mais
altos do que os do Gripen NG da
Saab (Suécia), por exemplo.
Assim como Toffoli só tem 41
anos, não tem mestrado nem doutorado, levou duas bombas para juiz
estadual e responde a dois processos na própria Justiça.
Então, por que Lula insiste nos
Rafale, a ponto de o presidente da
França, Nicolas Sarkozy, se dar ao
direito de anunciar publicamente
que o negócio já está virtualmente
fechado? Porque o governo brasileiro decidiu fazer uma tal "aliança
estratégica" com os franceses.
E por que Lula insiste em Toffoli
e já está tudo bem amarrado no
Congresso e no Supremo para nomeá-lo ministro da mais Alta Corte? Porque Toffoli foi um bom advogado das campanhas do PT.
Ou seja, no duro, no duro, a resposta é uma só: porque Lula quer.
elianec@uol.com.br
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