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Congresso dominado
Embora muitos ainda não tenham definido as suas escolhas, pesquisas indicam que aliança governista terá ampla maioria no Legislativo
Como tem sido regra nas campanhas desde 1994, quando a eleição para a Presidência da República passou a coincidir com as escolhas para o Congresso, as atenções mais uma vez se voltam quase que exclusivamente para a sucessão presidencial. É compreensível que assim seja. No presidencialismo brasileiro, o chefe do
Executivo concentra muito poder
em suas mãos. Para o bem e para o
mal, em torno da sua figura se mobilizam os anseios e as expectativas da sociedade.
É sintomático que pesquisa Datafolha, realizada a duas semanas
da eleição, tenha revelado que
apenas um terço da população havia escolhido seu candidato a deputado federal até aquela data. Isso se deve, em parte, às características do Legislativo, instituição na
qual o poder é pulverizado entre
vários representantes. Mas se deve sobretudo à desinformação de
muitos sobre a importância de escolher de maneira criteriosa aqueles que irão desempenhar o papel
de legisladores e, em tese, de fiscalizadores do Executivo.
Não é à toa que em São Paulo o
candidato Tiririca seja a grande
atração da atual temporada eleitoral. Segundo as projeções, o candidato a deputado federal pelo PR
deve sair das urnas consagrado,
com algo em torno de 900 mil votos -o que poderá ser uma das
maiores votações da história para
a Câmara dos Deputados.
Tiririca não é um palhaço avulso no processo eleitoral. É um puxador de votos, estrategicamente
escalado como tal. Seu partido está coligado ao PT e ao PC do B, o
que significa que ajudará a eleger
alguns companheiros (ou mensaleiros) do PR ao PT.
Tiririca representa, digamos, a
face cômica, ou debochada, ou
ainda a superfície pitoresca de
uma avalanche governista no
Congresso. Esse talvez seja o ponto crucial, para o qual não se deu
ainda a devida atenção.
O consórcio que sustentará Dilma Rousseff, caso se confirme a
tendência de vitória em 3 de outubro, deverá obter domínio inédito
nas duas casas legislativas desde
a redemocratização do país. É impossível saber com exatidão o tamanho dessa maioria, mas é praticamente certo que será suficiente
para levar a cabo eventuais mudanças no texto constitucional.
Para isso, são necessários os votos
de 3/5 da Câmara (308 deputados)
e do Senado (49 senadores).
Segundo projeções feitas até
agora, sujeitas a oscilações, a base
de apoio a Dilma pode eleger até
401 deputados e somar 58 senadores após a renovação do mandato
de dois terços do Senado. Mesmo
que não alcance esse teto virtual,
o bloco governista no Congresso
será bem mais expressivo do que
foi, por exemplo, no início dos
mandatos de Lula. Em 2003, o petista reuniu 31 senadores e 254 deputados a seu favor, número que
cresceu para 49 senadores e 353
deputados no início de 2007.
Não se ignora que a maioria governista é muito heterogênea,
congregando entre 10 e 15 partidos. O amálgama parlamentar
que Dilma deve receber como herança do lulismo tende a se comportar segundo os mesmos padrões que o próprio Lula estimulou durante seu reinado. O cimento dessa base é a fisiologia.
Parece ir se configurando um
Congresso servil ao Executivo,
sem iniciativa ou luz própria, com
baixa ou quase nenhuma capacidade de formulação, propenso a
se tornar balcão de negócios paroquiais e caixa de ressonância dos
grandes interesses do governo.
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